É uma das personalidades mais queridas da poesia portuguesa contemporânea, uma das maiores poetisas do século XX, em cujos versos o mar, elemento constante, é uma das referências da limpidez e fina sensibilidade de uma obra grandiosa, de uma subjetividade talhada pelo domínio de seu oficio e pelo refinamento de seu espírito.
Suas obras possuem uma luminosidade e uma precisão excepcionais. Seus poemas não falam de uma vida ideal, mas de coisas concretas: o ângulo de uma janela, a ressonância das ruas, cidades e salas, a sombra projetada em uma parede, um rosto, o silêncio, a distância e o brilho das estrelas, a noite, a respiração, o aroma do limão e do orégano...
É uma obra comprometida, inclusive, com a política: convencida de que a poesia é “a mais profunda implicação do homem na realidade”, Sophia defende que a arte não pode continuar a ser fragmentária, que o uso burguês da cultura deve ser superado, porque apenas conduz ao fracasso do projeto de integridade humana: “Quem realmente está empenhado na construção de um país melhor e de uma sociedade melhor luta pela verdade da cultura” e “aquele que é cúmplice da mediocridade é inimigo de uma sociedade melhor, por mais que apregoe grandes princípios revolucionários”.
Para Sophia, há três princípios básicos na literatura: a luta contra a degradação da palavra, a luta contra os slogans e a luta contra a promoção dos medíocres: “todo poeta é artesão de uma linguagem”, que exige um rigor obstinado.
Sua poesia foi fiel a esses princípios, buscou “A memória longínqua / de uma pátria / eterna mas perdida e não sabemos / se é passado ou futuro / onde a perdemos”.
Esta sensação de perda essencial e a formação em filologia a conduziram, inevitavelmente, ao mito e à história da palavra e a vincularam à literatura grega clássica e à tradição ocidental, da qual é um dos representantes máximos.
Onde sua poesia adquire a máxima expressão é no poema breve, metafísico ou de compromisso ético e denúncia social. A escuridão que habita a todos nós é exposta, a luz nos dói como um jardim perdido, a liberdade se ancora em elementos simples e essenciais que expressam a profunda necessidade de voltar ao básico, de encontrar-se em sua totalidade.
A luz que inunda seus versos enfatiza a necessidade de ver e enfrentar uma realidade sem véus, em todo o seu esplendor e complexidade, porque a felicidade mais pura provém do descobrimento da verdade, da presença das coisas essenciais, evitando que o tempo arraste consigo os elementos que unem os homens uns aos outros, unindo-os consigo mesmos.
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
(in Livro Sexto, 1962)