Em 1069 começou a trabalhar na Goupil & Cie., empresa de comerciantes de arte, seguindo a tradição familiar – os tios foram vendedores de arte e o irmão Theo trabalhou como vendedor de obras de arte, tendo grande influência na última etapa de sua vida artística.
Vincent permaneceu sete anos na Goupil & Cie., sendo transferido para Londres e, posteriormente, para Paris e novamente à Inglaterra. Suas transferências eram motivadas pelas duras críticas que fazia às obras vendidas.
No outono de 1880, em Bruxelas, iniciou seus estudos de arte, com o auxílio financeiro do irmão, de quem foi próximo durante toda a vida, mantendo uma correspondência contínua e comovedora, através da qual foi possível conhecer sua vida e obra.
No verão voltou à casa dos pais, em Etten, onde conheceu sua prima Cornelia Adriana Vos-Stricker (Kee), que havia enviuvado e se encarregava sozinha da educação do filho, por quem apaixonou-se. Rejeitado pela prima e vivendo tensões pessoais com o pai, recebeu do primo Anton Mauve seu primeiro conjunto de aquarelas.
Em Haya, no ano de 1882, conheceu Clasina Maria Hoornik (Sien), grávida do segundo filho, com quem passou a viver uma relação tormentosa, em virtude da volátil personalidade de ambos e da extrema pobreza em que viveram.
Em 1883 começou a trabalhar com a pintura a óleo, aperfeiçoando suas habilidades para desenhar e pintar, ao mesmo tempo em que separou-se definitivamente de Sien e decidiu recuperar-se de relação isolando-se completamente. Abalado pela tristeza, deixou Haya e viajou para Drenthe, uma cidade quase desolada da Holanda. Por seis semanas viveu como nômade, viajando pela região, desenhando e pintando as paisagens e seus habitantes.
No início de 1885 continuava pintando sua série de retratos campestres, que considerava estudos para aperfeiçoar sua técnica e preparar sua obra mais ambiciosa. Esses estudos foram interrompidos pela morte do pai, com quem havia mantido uma relação difícil, embora o fato o tenha abalado profundamente.
Prosseguiu em anos de trabalho duro até alcançar a primeira obra importante: Os Comedores de Batata (Les mangeurs de pomme de terre).
Durante o ano de 1886 transformou-se definitivamente em um artista, pintando no ambiente parisiense. Começou, assim, a pintar de forma diferente, deixando de utilizar as cores mais escuras e tradicionais da Holanda, incorporando os tons mais vibrantes dos impressionistas e interessando-se pela arte japonesa.
Como um motivo reincidente ao longo de sua vida, a miséria voltou a assolá-lo, deixando-o irritável e deprimido. Durante os meses de verão vivia momentos de felicidade, em comunhão com a natureza, pintando ou fazendo longas caminhadas, vivendo para o sol.
Os anos em Paris impactaram fortemente sua evolução artística, embora nunca se encontrasse satisfeito, partindo novamente em direção ao sul, em busca do sol de Arlés, no início de 1888.
Decepcionado novamente por encontrar uma Arlés fria e suja, coberta pela neve em suas primeiras semanas de estadia, começou a produzir alguns dos trabalhos mais valiosos de sua carreira.
Em 23 de dezembro, em um ato irracional, mutilou o lóbulo da orelha esquerda com uma navalha, envolveu-a em um pano e a levou a um bordel, presenteando uma das mulheres do local. De volta para casa, desmaiou e foi encontrado pela polícia, sendo conduzido ao hospital, onde sua saúde física e mental deteriorou-se consideravelmente.
Sobre a doença de Vincent Van Gogh foram emitidos diversos diagnósticos, desde esquizofrenia ou epilepsia até uma doença metabólica, como a porfiria aguda intermitente.
O irmão Theo, temendo por sua vida, ficou ao seu lado. Após a recuperação, alguns cidadãos, alarmados por seu comportamento, enviaram uma petição ao prefeito e ao superintendente da polícia e, em virtude disso, Vincent foi reconduzido ao hospital por seis semanas, com licença para sair em caminhadas supervisionadas para pintar e tratar de seus negócios.
Esse foi um tempo produtivo, embora desalentador. Convencido da precariedade de sua saúde mental, Vincent concordou em internar-se no asilo de Saint-Paul-de-Mausole, em Saint-Rémy-de-Provence.
No manicômio, nenhuma terapia foi capaz de fazer com que recuperasse a saúde mental e, em 1889, sofreu outro ataque sério, que durou cerca de uma semana, mas do qual se recuperou e voltou a pintar, principalmente cópias de trabalhos de outros artistas, impossibilitado que se encontrava de deslocar-se para o exterior.
Nos primeiros meses do ano posterior sofreu mais dois ataques, que se tornaram mais frequentes e o incapacitaram severamente. Vivendo o pior momento de sua vida e em um estado mental de maior desespero, seus trabalhos começaram a receber aplausos da crítica.
Preocupado com Vincent, Theo decidiu levá-lo de volta a Paris, para tentar um tratamento homeopático, em maio de 1890. Por três semanas Vincent voltou a pintar e se encontrava razoavelmente feliz, escrevendo à mãe e à irmã: “No momento me sinto muito mais calmo do que no ano passado e realmente a agitação em minha cabeça se aquietou grandemente”.
Embora haja contradições nos relatos dos acontecimentos posteriores, é possível afirmar que em 27 de julho de 1890, com o nascimento do filho de Theo, Vincent dirigiu-se ao campo com a intenção de pintar. Ali disparou um tiro no peito e voltou para a pousada onde estava hospedado, caindo na cama. O médico que o atendeu decidiu não tentar retirar a bala alojada e escreveu a Theo, endereçando a carta à galeria onde este trabalhava.
Na tarde seguinte Theo chegou e permaneceu junto a Vincent, abraçando-o e falando-lhe em holandês. Mais tarde escreveu que o irmão encontrava-se resignado: “Ele queria morrer; quando me sentei à sua cabeceira e disse que faríamos com que melhorasse e superaríamos esse desespero, disse: ‘la tristesse durera toujours’. Compreendo o que queria dizer com essas palavras”.
Vincent van Gogh morreu no dia 29 de julho de 1890 e, seis meses mais tarde, Theo o seguiu. O homem que durante a vida vendeu apenas um quadro - A Vinha - não foi, apesar da vida conturbada que viveu, apenas um homem depressivo ou doente: foi um gênio criativo, mestre de uma obra cujos traços revelam a vitalidade e o poder de um artista extraordinário.
Durante a sua breve carreira, em dez anos, produziu mais de duas mil pinturas e desenhos que, surpreendentemente, apesar da genialidade e da loucura que dividiam a sua mente, são vibrantes, intensas, capazes de transmitir a calma, o bem estar e a beleza que perseguiu durante toda a vida.
O detalhe da luz tênue que ilumina a mesa também é uma marca absoluta da pintura impressionista.
Este foi o único quadro que vendeu em vida, no ano de 1890, durante uma exposição em Bruxelas, para a pintora Anna Boch.
O surpreendente efeito tridimensional proporcionado pelo empaste é de uma magnífica simplicidade, com as flores em primeiro plano, linhas firmes e simplificadas e cores densas e brilhantes, expressando a luz solar.
Descrevendo esse quadro, Van Gogh fazia menção à enorme lâmpada amarela que ilumina o terraço, a fachada da casa, a parede e, inclusive, estende sua luz para a rua, que adquire uma tonalidade rosa-violeta.
Ao espectador evoca a sensação de andar pela rua em direção ao café em uma noite de verão.
Seus quadros noturnos insistentemente ressaltam a importância que atribuía à captura das cores brilhantes do céu noturno e à iluminação artificial, que era novidade na época.
As flores ocupam todo o espaço pictórico, em uma perspectiva frontal, como uma fotografia. As linhas onduladas predominam na composição e os tons complementares – verdes e malvas, acompanhados de laranjas e amarelos – criam uma espetacular riqueza cromática e de luz.
É inquietante também a estrutura do quadro, no qual três caminhos dirigem a composição para o primeiro plano e não convergindo para o horizonte e o caminho central termina abruptamente.
As camadas cada vez mais densas sugerem uma energia intensa e vibrante, carregada de intenso significado e fortes sensações.