Bessie Smith não foi a primeira, mas foi a melhor e a mais radical, aquela que reinou soberana em uma forma expressiva puramente feminina, que traz em si a revelação de todo o espectro das emoções humanas. Com Smith é possível passar do riso ao pranto a cada nota.
Sua voz poderosa, que nunca necessitou ser amplificada quando cantava em teatros e bares, era também vulnerável e majestosa. Gravou cento e sessenta músicas e cantou com os melhores músicos de sua época: Fred Longshaw, Porter Grainger, Fletcher Henderson, Coleman Hawkins, Sidney Bechet, Charlie Green, Buster Bailey, Don Redman e Louis Armstrong (com quem gravou temas legendários, como St Louis Blues, Cold in Hand Blues, Careless Love Blues, I ain’t Gonna Play no Second Fiddle).
Chegou a um ressurgimento passageiro após a Depressão e a chegada da era do swing, com Benny Goodman, mas naquela época, para uma estrela negra as coisas se tornavam difíceis.
Em 26 de setembro de 1937, sofreu um acidente de trânsito, na mítica Highway 61, a estrada que os bluesman do Delta percorriam para emigrar para Chicago e dar origem ao blues urbano e elétrico das décadas seguintes. Faleceu aos quarenta e três anos.
Alguns cronistas brancos e sensacionalistas afirmaram que teria falecido por hemorragia, porque um hospital racista havia se negado a atendê-la, embora a verdade é que não resistiu aos ferimentos e faleceu ainda na ambulância que a conduzia.
Foi enterrada em um cemitério próximo ao local do acidente. Estava arruinada e não havia fundos para pagar um túmulo. Sua sepultura permaneceu sem lápide até 1970, quando Juanita Green (que fora criada de Smith) e Janis Joplin (que dispensa apresentações) arrecadaram os fundos necessários para pagar uma lápide de mármore na qual se inscreveu: “A maior cantora de blues do mundo nunca deixará de cantar”.