O talento e a genialidade de Charlie Parker sobrepuseram-se às suas fraquezas, de tal forma que seu nome está inscrito, definitivamente, na história do jazz, ao lado de Louis Armstrong, Duke Ellington, Miles Davis e tantos outros gênios que viveram mais e, talvez, melhor, embora não com a mesma intensidade.
Sua obra ressoa hoje com a mesma vibração e atualidade e mantém-se tão fascinante quanto a sua história.
Aos onze anos, apesar das duras dificuldades econômicas, a mãe lhe presenteou com seu primeiro saxofone.
O domínio e a genialidade se manifestaram a partir de então, junto com a primeira experiência com as drogas – da maconha, que passou a consumir aos onze anos, passou à heroína aos quinze.
Destacando-se como músico em Kansas City, mudou-se para Nova Iorque em 1939, onde passou a trabalhar lavando pratos em um restaurante. Ao mesmo tempo, no Harlem, começou a tocar com Dizzy Gillespie, em um momento em que o swing encontrava seus limites, cedendo passagem ao bebop.
Sua grandeza e sua miséria deram origem a composições insuperáveis, como Relaxing at Camarillo, que compôs logo depois de sair de uma clínica de desintoxicação na Califórnia.
Sua improvisação em Embraceable You, em que apenas insinua a melodia de Gershwin, utilizando o motivo de seis notas cinco vezes, com grande variedade, transformado para adaptar às mudanças harmônicas, demonstra a essência de sua capacidade criadora.
Sua originalidade reside, precisamente, na introdução de uma linguagem musical nova, que prolongava e enriquecia a anterior, mostrando novos caminhos com um brilho irretocável, seguindo apenas seus impulsos artísticos. Imprimiu ao jazz um crescimento orgânico, a partir do qual se tornou impossível pensar no jazz como uma música de bares ou de bailes: a partir de Charlie Parker, o jazz passou a ser uma música para ser ouvida.
O bebop, ao incorporar implicitamente todos os elementos da harmonia europeia anterior a 1900, ampliou a linguagem rítmica do jazz, acentuando a interpretação e a música de Parker representou uma das imaginações harmônicas mais férteis já criadas no mundo do jazz.
Neste aspecto, sua herança combinou o sofisticado e o preciso sentido harmônico de Coleman Hawkins e a variedade e a originalidade livre de Lester Young.