O novelista e poeta irlandês James Joyce, cuja agudeza psicológica e técnica literária inovadora, expressas na obra Ulisses o convertem em um dos mais importantes escritores do século XX nasceu em Dublin, em 2 de fevereiro de 1882. Na infância pobre, estudou com os jesuítas e chegou à Universidade de Dublin. Embora tenha sido educado na fé católica, rompeu com a igreja na juventude.
Em 1904 abandonou Dublin para viver Trieste, depois em Paris e em Zurich, mantendo-se às custas de seu trabalho como professor particular de inglês e com a ajuda de conhecidos. Em 1907 adoeceu gravemente, chegando quase à cegueira.
Ainda estudante, com pouco mais de 18 anos, alcançou seu primeiro êxito literário com um artigo, O novo drama de Ibsen, publicado na revista Fortnightly Review, de Londres.
Seu primeiro livro, Música de Câmara, de 1907, contém trinta e seis poemas de amor bastante elaborados, que refletem a influência da poesia lírica isabelina e dos poetas líricos ingleses do fim do século XIX. Em sua segunda obra, um livro de quinze contos, Dublinenses, de 1914, narra episódios críticos da infância e da adolescência, da família e da vida pública de Dublin. Estes contos foram publicados pela revista The Irish Homestead, mas considerados pelo diretor da revista como inadequados para seus leitores.
A novela inaugural, Retrato do Artista Quando Jovem, de 1916, autobiográfica, recria sua juventude e a vida familiar através da história de Stephen Dedalus. Como não conseguiu um editor inglês para a obra, sua mecenas, Harriet Shaw Waver, diretora da revista Egoist, foi quem a publicou, imprimindo-a nos Estados Unidos.
Nessa obra, Joyce utiliza amplamente o monólogo interior, recurso literário que marca todos os pensamentos, sentimentos e sensações de um personagem, com um realismo psicológico preciso.
Em 1918 publicou Exilados, peça de teatro que parte da história de quatro personagens – intensos, estranhos, sofredores, em dúvida permanente, humanos enfim – que, com seus conflitos íntimos, que se ampliam e afetam uns aos outros, criam uma obra estranha, de clima destrutivo e perturbador.
Joyce alcançou fama internacional em 1922, com a publicação de Ulisses, novela cuja ideia principal é baseada na Odisseia de Homero, narrando um período de vinte e quatro horas nas vidas de Leopold Bloom, um judeu irlandês, e de Stephen Dedalus e cujo clímax ocorre quando estes se encontram. O tema principal é a inquietude de Bloom, a infidelidade da sua esposa e a emergência da consciência de Dedalus de dedicar-se a escrever.
Em Ulisses, Joyce aprofunda a técnica do monólogo interior, como um meio extraordinário para retratar os personagens, combinando-o com o emprego do mimetismo oral e da paródia de estilos literários como método narrativo.
A revista americana Little Review passou, em 1918, a publicar os capítulos da obra, até 1920, quando a novela foi proibida por ser considerada obscena, sendo publicada posteriormente, em 1922, em Paris.
Sua última e mais completa obra é Finnegans Wake, de 1939, uma tentativa de encarnar na ficção uma teoria cíclica da história. A novela é escrita em forma de uma série ininterrupta de sonhos, que acontecem durante uma noite na vida do personagem Humphrey Chimpdem Earwicker. Simbolizando toda a humanidade, Earwicker, sua família e seus conhecidos se misturam, como personagens oníricos, uns aos outros e com diversas figuras históricas e míticas.
Na obra, Joyce leva seus experimentos linguísticos ao limite, escrevendo em uma linguagem na qual se misturam palavras inglesas a outras, procedentes de diversos idiomas.
Suas outras obras publicadas em vida são dois livros de poesia, além de Música de Câmara: Pomas, um Tostão Cada, de 1927, e Collected Poems, de 1936, elogiados inclusive por Ezra Pound, mas desestimados pelo próprio Joyce.
Joyce empregava símbolos para expressar o que chamou de “epifania”, a revelação de determinadas qualidades interiores. Seus primeiros escritos descrevem características individuais dos personagens, as dificuldades da Irlanda e do artista irlandês no início do século XX, em uma perspectiva interior.
As duas últimas obras, Ulisses e Finnegans Wake, revelam os personagens em toda sua complexidade, a partir de diversos aspectos de suas relações. Empregando técnicas experimentais para comunicar a natureza essencial das situações reais, Joyce combina tradições literárias do realismo, do naturalismo e do simbolismo, moldando-as em um estilo e uma técnica única.
Após viver por vinte anos em Paris, quando os alemães invadiram a França, no início da Segunda Guerra Mundial, Joyce mudou-se para Zurich, onde faleceu em 13 de janeiro de 1941.
Após sua morte, foram publicadas Stephen, o herói, (1944), primeira versão de Retrato do Artista Quando Jovem, Giacomo Joyce, considerada o antecedente de Ulisses (1968), Cartas de James Joyce a Sylvia Beach (1987) e Finn’s Hotel (2013).
A origem das comemorações do bloomsday é a noite de 16 de junho de 1904, seis meses após Joyce ter fracassado na tentativa de publicar Retrato do Artista Quando Jovem em uma revista de Dublin. Marca o primeiro encontro do escritor com Nora Barnacle, a camareira de hotel, inculta e bela, que recém havia conhecido e que viria a se tornar sua companheira durante toda a vida.
A data foi consagrada por Joyce em Ulisses, sendo também o dia em que Leopold Bloom e Stephen Dedalus se encontram e, por cerca de dezenove horas, percorrem as ruas de Dublin, convertendo-se, então, em doomsday (o dia do juízo) e no bloomsday (o dia do florescimento).
O bloomsday é também, de certa forma, um desagravo da Irlanda a James Joyce, já que ele não foi, em vida, um personagem admirado, e sim persona non grata, criticado de obsceno e de herege e sua obra, atualmente tão festejada, sequer podia ser vendida publicamente.
A torrente de palavras e atos que comemoram Joyce ao narrar um dia na vida de seus personagens, celebrando sua vida amorosa e sua importância histórica é, também, a celebração de sua vida real, livre da censura, da máscara da moralidade e dos fundamentalismos que o condenaram em vida.