Como tradutor de alemão a português, dentre outros idiomas, é responsável pela tradução de obra de Ernst Robert Curtius e, como memorialista, entre suas impressões de viagens destacam-se textos dedicados à Alemanha, especialmente do ano de 1954, quando foi professor na Universidade de Hamburgo.
Durante sua vida ocupou diversos cargos importantes, dentre os quais: diretor da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, diretor do Instituto Nacional do Livro, membro da Missão Cultural do Ministério das Relações Exteriores para os Estados Unidos, professor de Teoria da Literatura da Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro, presidente da Associação Brasileira de Bibliotecários, professor do Curso de Estudos Brasileiros na Faculdade de Hamburgo, membro da Academia Brasileira de Letras, membro do Conselho Federal de Cultura.
Colaborou com vários jornais no Rio de Janeiro e em Porto Alegre e ajudou a criar a Fundação Eduardo Guimarães e a Sociedade dos Amigos de Machado de Assis, escritor pelo qual Meyer nutria imensa admiração e cuja obra dedicou-se a analisar com constante empenho.
Sobre Meyer escreveu Drummond: “Caberia num livro? Imagino-o transformado no livro de si mesmo: volume fino, alongado, de elegante encadernação, tipos escolhidos, vinhetas desenhadas por um diabinho renascentista que, aqui e ali, pusesse um toque de Bilu no contorno das figuras. Livro que fosse a síntese de uma biblioteca sem obras indigestas, cultura presente como atmosfera ou água de beber”. (Trecho do artigo “De Meyer a Bilu”, publicado no Jornal do Brasil em 16/07/1970.)
Como crítico literário e ensaísta, Augusto Meyer comentou obras de autores como Omar Khayyam, Alphonsus de Guimaraens, Eça de Queirós, Dostoiévski e, sobretudo, Machado de Assis, cuja obra estudou de forma revolucionária e intensa. Em seus escritos, via de regra, compôs uma investigação crítica marcada por um fluxo intelectual notável e refinado, como poucos escritores do século XX foram capazes de elaborar.
Seus textos jornalísticos, ensaios e críticas revelam um escritor que se serve de recursos expressivos inesgotáveis, inovadores e cuidadosamente construídos. Mesmo suas críticas são de uma reserva na interpretação que revela a constante busca por não se aprofundar mais do que o necessário nos textos, de forma a não obscurecer o autor analisado, como ele próprio explicava.
Augusto Meyer representou, além de tudo, o nome que atribuiu uma exterioridade regional, gaúcha, ao Modernismo e a excelência de uma formação intelectual que estudou e debruçou-se sobre Proust, Rimbaud, Camões e Machado de Assis com a mesma iluminação e lirismo com que imortalizou a prosa e a poesia do Rio Grande do Sul.
Negrinho do Pastoreio,
Venho acender a velinha
que palpita em teu louvor.
À luz da vela me mostre
o caminho do meu amor.
À luz da vela me mostre
onde está Nosso Senhor.
Eu quero ver outra luz
na luz da vela, Negrinho,
clarão santo, clarão grande
como a verdade e o caminho
na falação de Jesus.
Negrinho do Pastoreio
diz que você acha tudo
se a gente acender um lume
de velinha em seu louvor.
Vou levando esta luzinha
treme, treme, protegida
contra o vento, contra a noite.
É uma esperança queimando
na palma da minha mão.
Que não se apague este lume!
Há sempre um novo clarão.
Quem espera acha o caminho
pela voz do coração.
Eu quero achar-me, Negrinho!
(Diz que você acha tudo).
Ando tão longe, perdido...
Eu quero achar-me, Negrinho:
a luz da vela me mostre.
Negrinho, você que achou
pela mão da sua Madrinha
os trinta tordilhos negros
e varou a noite toda
de vela acesa na mão,
(piava a coruja rouca
no arrepio da escuridão,
manhãzinha, a estrela d'alva
na luz do galo cantava,
mas quando a vela pingava,
cada pingo era um clarão).
Negrinho, você que achou,
me leve à estrada batida
que vai dar no coração.
(Ah! os caminhos da vida
ninguém sabe onde é que estão!)
Negrinho, você que foi
amarrado num palanque,
rebenqueado a sangue
pelo rebenque do seu patrão,
e depois foi enterrado
na cova de um formigueiro
pra ser comido inteirinho
sem a luz da extrema-unção,
se levantou saradinho,
se levantou inteirinho:
seu riso ficou mais branco
de enxergar Nossa Senhora
com seu Filho pela mão.
Negrinho santo, Negrinho,
Negrinho do Pastoreio,
você me ensine o caminho,
pra chegar à devoção,
pra sangrar na cruz bendita
pelo cravos da Paixão.
Negrinho santo, Negrinho,
Quero aprender a não ser!
Quero ser como a semente
na falação de Jesus,
semente que só vivia
e dava fruto enterrada,
apodrecendo no chão.
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