Sobre Mário Quintana pouco se pode expressar através de palavras. O poeta não pode ser definido por sua biografia, mas pela mágica de seus versos, pois basta uma única palavra em um único verso para que, misteriosamente, sejam decifrados todos os mistérios da vida.
O deslumbramento da poesia de Quintana é o deslumbramento do homem que subitamente tem diante si a tradução de seus gestos mais banais em um enorme sentimento, inscrito na mais simples de todas as sentenças:
Não à toa, Quintana é lido e admirado por intelectuais e pelo público. É popular e erudito, unânime em sua simplicidade e em sua profundidade. Intimista e, ao mesmo tempo, comum, possui uma habilidade rara para tratar do senso comum, dialogando consigo mesmo, com o leitor e com as coisas sobre as quais se debruça.
Precisamente, Quintana comunica a beleza da alma do poeta, do homem que mantém presente sua infância, seus amores, suas esperanças e suas tristezas, que também são as lembranças e os sentimentos de todos e de cada um, do mais sensato ao mais louco dentre os homens. O poeta, para ele, apenas se diferencia de um louco pela consciência que tem de sê-lo, lúcida e conscientemente:
Talvez nem tanto pela ausência de novo poema, de um inédito aforismo (posto que sua obra jamais encontrará um termo definitivo), mas pela insubstituível e insuperável humanidade de Quintana, é que estamos há vinte e um anos mais carentes de alguém que nos traduza.
Tu deixaste a leitura interrompida...
E em vão, nos versos que tu lias tanto,
Inda procuro a tua voz perdida...
E continuo a ler, nessa ilusão
De que talvez me estejas escutando...
Porém tu dormes... Que dormir profundo!