Foi um escritor simples e irônico, mas com uma complexa construção criativa; no humor injeta a injustiça e a crueldade de uma forma obscura. A fórmula kafkiana não aponta para o final justo ou razoável, mas para o absurdo, chegando a um limite que apenas ele, intuitivamente, conhecia.
Revoltado com o materialismo do pai, muitas vezes escreveu metaforicamente sobre a luta para superar uma força descomunal, desalentadora, esmagadora e sufocante, refletindo seus sentimentos em relação a esses conflitos. Sua Carta ao Pai (1919), que nunca foi enviada, é um intento triste de explicar seu temor e afastamento da figura paterna e de colocar um fim às recriminações.
Kafka foi um escritor visionário, abordando com três décadas de antecedência as angústias e a mudança do século XX. Mesmo cercado por outros literatos da época, isolou-se da comunidade alemã e escreveu, sobre o gueto de Praga: “Em todos nós ainda vivem os cantos escuros, as passagens secretas, as janelas fechadas, os pátios sujos, os bares barulhentos, as pousadas sinistras...”. Afastou-se também do próprio patrimônio, da prática religiosa superficial dos pais e da formalidade da comunidade judia, apesar de atribuir-se seu estilo, algumas vezes, à influência da tradição popular judia. Finalmente, declarou-se ateu socialista, influenciado por Spinoza, Darwin e Nietzsche.
Ingressou na Universidade de Praga em 1901, para estudar a literatura alemã e o direito, doutorando-se em 1906. Em 1902, conheceu Max Brod, que se converteu em seu tradutor, partidário e amigo íntimo. Levando uma vida relativamente difícil, como empregado do Instituto de Seguros de Acidentes dos Trabalhadores de Praga de 1907 a 1922, sua fama como escritor ocorreu postumamente, quando Max Brod publicou suas três grandes obras: O Processo (1925), O Castelo (1926) e Amerika (1927).
A obra de Kafka é, por vezes repleta de humor negro, ao estilo de parábola, meditações, fragmentos poéticos e esboços. Ainda que sejam obras abertas a múltiplas interpretações, causando dificuldades em sua categorização em um gênero único, o existencialismo e o modernismo se encontram entre seus escritos.
Em 1911, Kafka passou o primeiro de muitos períodos de internação para tratamento de saúde. Em 1912 conheceu e comprometeu-se com Felice Bauer e terminou A Metamorfose, seu conto mais conhecido, obra prima de impressionante angústia psicológica, sociológica e existencial. Em 1913 escreveu Meditações e, no mesmo ano, Diante da Lei.
Em 1916 concluiu A Sentença; em 1919 o profético Na Colônia Penal e Um médico rural. Em 1917 rompeu o compromisso com Felice Bauer, possivelmente pela dificuldade de cortar os laços com o pai. Na mesma época foi diagnosticado com tuberculose. Apenas em 1923 conseguiu desvincular-se da família e passou a viver em Berlim para dedicar-se apenas à literatura. Em 1924 escreveu Um artista da fome, quatro histórias que ilustram o estilo conciso e lúcido de sua obra nos últimos anos.
A falta de confiança e as dúvidas de Kafka sobre sua obra fizeram com que pedisse ao amigo Max Brod que destruísse todos os seus manuscritos inéditos após sua morte. Contudo, em 1925 Brod publicou O Processo, obra na qual Kafka explora a persecução, a injustiça, a ansiedade e a paranoia: o protagonista, Joseph K, enfrenta sem êxito as regras arbitrárias do sistema judicial, sem saber por qual delito é culpado.
Brod também publicou O Castelo (1926), uma metáfora extensa sobre a autoridade, a burocracia e a busca da graça e do perdão, e Amerika (1927), com um enfoque invertido, mas também um exame dos horrores simbólicos da vida moderna.
Kafka faleceu em 3 de junho de 1924, por complicações da tuberculose, em Kierling, na Áustria. Seus restos foram sepultados junto ao pai, sob um obelisco, em Praga. Na há epitáfio, mas Milena Jesenska, sua amante, jornalista e escritora, poucos dias após sua morte sentenciou: “Kafka escreveu as obras mais significativas da moderna literatura; a verdade crua nelas presente faz com que pareçam naturalistas, mesmo quando falam em símbolos. Elas refletem a ironia e a visão profética de um homem condenado a ver o mundo com tão ofuscante clareza que o considerou insuportável, e partiu para a morte”.