A carreira literária de Lord Byron confunde-se com a história de sua vida e, em muitos aspectos, revela um homem cuja memória merece um olhar que transcenda os muitos aspectos negativos de sua conduta, que foram construídos e evidenciados mesmo após a sua morte.
Desde 1807, quando publicou o livro de poemas Horas de ócio, Lord Byron foi alvo de críticas. O jornal Edimburgh Review contestou severamente a obra e, em resposta, o poeta escreveu Bardos ingleses e críticos escoceses, em 1809, ano em que passou a fazer parte da Câmara dos Lordes e iniciou uma viagem de dois anos pela Espanha, Portugal e Grécia.
A publicação, em 1812, dos primeiros cantos de Childe Harold, poema em que narra suas viagens pela Europa, o levou a alcançar a fama. O herói do poema foi o primeiro exemplo do que passou a ser conhecido como o herói byroniano: um jovem atormentado, que rejeita a humanidade e que vaga pela vida sob o peso do sentimento de culpa, causado por misteriosos pecados cometidos no passado.
Este herói, inspirado na vida e na personalidade do autor, é o mesmo estereótipo que se repete em seus poemas narrativos seguintes: O infiel (1813), A noiva de Abydos (1813), O corsário (1814) e Lara (1814).
Em 1815, ano em que publicou Melodias hebreias, casou-se com Anna Isabella Milbanke, união da qual nasceu sua única filha legítima, Augusta Ada. Após o nascimento da filha, Anna o abandonou. Em 1816 separaram-se legalmente.
Os rumores sobre suas relações incestuosas com a meia-irmã e as dúvidas sobre sua sanidade mental provocaram seu ostracismo social. Profundamente amargurado, abandonou a Inglaterra em 1816 e jamais regressou.
Em Gênova, viveu com os Shelley e Claire Clarimont, escreveu o terceiro canto de Childe Harold e o poema narrativo O prisioneiro de Chillon (1816). Até 1819 residiu em Veneza, onde escreveu o drama em versos Manfred (1817), que deu origem a uma correspondência com Goethe. Também escreveu os dois primeiros cantos de Don Juan (1818-1819) e o quarto e último canto de Childe Harold (1818), um poema satírico escrito em oitava rima (estrofe de oito versos de onze ou doze sílabas), o mesmo estilo que desenvolveu em Don Juan.
Durante anos viajou pela Itália, até que em 1821 instalou-se em Pisa, escrevendo os dramas poéticos Caim e Sardanapalo e os poemas narrativos Mazeppa e A ilha.
Em 1822 fundou, em Pisa, a revista The Liberal, com os poetas Percy Bysshe Shelley e Leigh Hunt, mas a morte de Shelley no mesmo ano e uma disputa com Hunt determinaram o fim da revista, quando haviam sido publicados apenas três edições.
Também iniciou uma querela literária com o poeta Robert Southney, que havia atacado seu Don Juan no prefácio de seu livro Uma visão do juízo final. Em resposta, Byron demonstrou sua habilidade como satírico, compondo um devastador ataque, no estilo do livro de Southney.
Don Juan, poema heroico e burlesco de dezesseis cantos, é uma brilhante sátira sobre a sociedade inglesa da época. Esta é considerada a melhor de suas obras, concluída em 1823, ano em que, ao tomar conhecimento das notícias da rebelião dos gregos contra os turcos, uniu-se aos insurgentes em Missolonghi.
Não apenas reuniu um regimento para a causa da independência grega como também contribuiu com grandes somas de dinheiro. Os gregos o nomearam Comandante em Chefe de suas forças em janeiro de 1824. Morreu de febre em Missolonghi, três meses depois, sem ter participado em nenhum combate importante.
Como afirmação de sua atração e simpatia pelos liberais espanhóis e pela causa dos patriotas hispano-americanos, colocou o nome de “Bolívar” em seu barco. Não é de se estranhar que na Espanha do absolutismo de Fernando VII e em uma América hispânica que lutava por sua emancipação, a vida e a obra de Byron representaram um incentivo e um modelo.
O espanhol Alcalá Galiano o converteu em herói e o argentino José Marmol inicia seus poemas com epígrafes de Lord Byron. Também influenciou o porto-riquenho Eugenio Maria de Hostos e o colombiano Rafael Pombo. Até Gertrudis Gómez de Avellaneda, nascida em Cuba, preferiu seguir esta poesia romântica antes do modelo apreciado na época de Cecília Böhl de Faber. Inclusive a rima de Gustavo Adolfo Bécquer “Tua pupila é azul” continua desenvolvendo temas byronianos.
Na segunda fase do Romantismo brasileiro, Lord Byron foi inspiração para a geração do “mal do século”, especialmente Álvares de Azevedo, com sua poesia pessimista e melancólica, a obsessão por temas mórbidos, pelo exagero e a idealização do amor, do sofrimento, pela solidão e a noite.
O fato é que, morto aos 36 anos, idade em que morriam todos os Byron, sentindo-se cansado e velho como quem vivera muito - o que era realidade -, Lord Byron deixou uma marca legendária, talvez exagerada em seu lado negativo, mas conveniente a um homem como ele.
Apesar de ter sido irmão incestuoso, mau marido, pai descuidado, etc., também foi enaltecido, inclusive por Shelley, que sempre o defendeu. Também deixou claro, com suas ações, como, por exemplo, ir lutar pela Grécia, que era capaz de grandes e elevados ideais.
Após a morte converteu-se em um mito na Europa e a devoção a ele chegou inclusive à América do Norte, já que Edgar Allan Poe, dentre outros, o admirava sem reservas, sendo notoriamente influenciado por ele.
Na Inglaterra, o abade de Westminster impediu que fosse sepultado na abadia e seus editores, por medo do escândalo, destruíram o manuscrito de suas memórias, impedindo com isso que a posteridade tomasse conhecimento de um inestimável retrato pessoal escrito por ele próprio.