No transcurso de sua longa trajetória de arte e de vida, experimentou a pintura, o desenho, a cerâmica, os relevos, mosaicos e vitrais.
O primeiro contato com a cidade francesa o impressionou pela luz, pela cor e, sobretudo, pela liberdade, a tal ponto que em seu vocabulário surgiram dois novos termos: lumière-libertè e coleur-amour que, associados, constituem a estrutura básica de sua pintura.
Quando chegou a Paris, encontrou duas correntes singulares destacadas, o fauvismo e o cubismo, embora não tenha aderido a nenhuma dessas tendências, mesmo que sua obra tenha sido influenciada por ambas.
Instalado em um pequeno estúdio, tornou-se amigo de Cendrars, Appolinaire, Modigliani e Delaunay e seus quadros iniciais deste período transpiram recordações, nas quais a infância adquire um protagonismo absoluto.
Como ele próprio reconheceu, a infância é um rio no qual gosta de submergir e, ao fazê-lo, revela um universo mágico, repleto de cabanas, isbas, lampiões, vacas, samovares, velas e violinistas como seu tio Neuch, que aparece em muitos de seus quadros. Esses elementos, que foram reais e próximos, passaram a ser personagens de seus contos coloridos.
Chagall manifestou, nessa época, um sentimento de indiferença, de perda de respeito pela realidade, de rebelião contra suas leis, produzindo um universo no qual a fantasia ocupa o espaço principal. Seu desejo é desordenar, modificar a realidade, dispersá-la em todas as direções.
Em À Rússia, aos Asnos e aos Outros e Eu e a Aldeia se reflete essa relação passional e fantástica entre o artista e suas raízes, percebe-se o odor de salitre dos arenques, ouve-se os ecos das orações da sinagoga e pode-se entrever uma natureza coberta de neve e flores, que ressurge em todo seu esplendor. Suas lembranças se converteram em lendas, em fábulas, conservando o mesmo tom com que escreveu suas memórias (Ma Vie, 1931).
Mudando-se para Moscou, passou a ocupar-se da concepção de cenários e figurinos para o Teatro de Kamemy até que, em 1922, abandonou a Rússia definitivamente, refugiando-se temporariamente em Berlim.
Em 1923 voltou a Paris. Nesse novo contexto, desenvolveu algo essencial à sua existência - o humor. Chagall é então um gênio divertido, jovial, como seu conterrâneo Gogol, para quem ilustrou Almas Mortas. Também ilustrou, posteriormente, as Fábulas de La Fontaine e a Bíblia.
Nos anos do surrealismo, da apologia dos processos mentais, do desprezo pela ordem social e da proclamação da liberdade do indivíduo. Chagall compartilhou estes ideais, embora sua arte tenha percorrido outros caminhos: durante estes anos, inspirou-se mais do que nunca no amor pela esposa e novos elementos surgiram, onipresentes, em sua obra: as janelas e a Torre Eiffel.
Esta época se caracterizou por uma mudança em sua forma de pintar, tornando-se mais sério, mais sólido. Seus quadros adquiriram um tom mais dramático, como em Bella de Vestido Verde, nos quadros sobre O Circo, no Em Torno Dela (sua despedida quando do falecimento da esposa) e Crucificação Branca. A cor perdeu sua transparência, se tornou mais densa e mais forte.
Os motivos continuaram a ser os mesmos, mas surgiram modificados, mesclando elementos já típicos, como enamorados sobre o telhado, com homens armados trazendo uma bandeira vermelha e uma imagem provocadora: Lenin apoiado em um dos braços sobre uma mesa na qual está sentado um ancião judeu com a Torá. O quadro foi transformado em três: Revolução, Resistência e Libertação.
Os quadros da etapa nova-iorquina adotaram uma aparência nova: em sua nova criação, adquiriram protagonismo as crucificações e os incêndios, como reflexo de uma época muito dura para o povo judeu, como Crucificação Amarela e As Penas e as Flores.
Também desenhou cenários e figurinos para o balé Aleko, onde encontrou dois grandes russos, Tchaikovsky e Pushkin, e, posteriormente, encarregou-se dos cenários do Pássaro de Fogo, de Stravinski.
Em 1952 casou-se com Valentina Brodsky e viajou para a Grécia, onde iniciou a ilustração de Dafne e Cloe. A partir de 1956 sua arte adotou uma dimensão monumental, experimentando a escultura, a cerâmica, os mosaicos e os vitrais, como os realizados nas catedrais de Reims e Metz e na sinagoga do Hebrew University Hadassah Medical Centre de Jerusalém.
Marc Chagall faleceu em Saint-Paul-de-Vence, em 28 de março de 1985.