Músico, compositor e maestro, amante da música, el loco fez evoluir, com sua balada, o principal gênero musical da Argentina. Criticado pelos músicos tradicionais do tango e amado pelo mundo do jazz e da música de câmara, alcançou renome internacional e uma influência imortal sobre os compositores das gerações posteriores.
Aos oito anos de idade, seu pai lhe presenteou com um bandoneon, com o qual iniciou seus estudos em Nova Iorque, onde passou a residir aos quatro anos e, desde então, empreendeu um caminho de inovação revolucionário.
Nesta época, aprendeu quatro idiomas (espanhol, inglês, italiano e francês) e começou a estudar bandoneon (em 1931) e piano (em 1933), com um discípulo de Rachmaninov, que lhe imprimiu o gosto pela música clássica, especialmente de Bach.
Em Nova Iorque teve um mitológico encontro com Carlos Gardel, durante a filmagem de El día que me quieras, no qual interpretou um vendedor de jornais. O jovem Astor tocou seu bandoneon nos bastidores e mereceu uma célebre observação de Gardel: “serás grande, garoto, mas tocas o tango como um galego”.
Piazzolla, que emergiu da melhor linhagem da tradicional família da tradição do tango, tocando na orquestra de Aníbal Troillo, foi educado na música erudita e na linguagem do jazz. Por essa razão deu ao tango uma nova face, mais rica e complexa, que lhe valeu a crítica da velha guarda .
“Minha audácia está na harmonia, nos ritmos, nos contratempos, no contraponto de dois ou três instrumentos, que é lindo, e em buscar que nem sempre seja tonal, em buscar a atonalidade”, disse Piazzolla sobre sua arte.
A agitação do olhar feminino, beijos, paixões, aromas da intimidade, instintos que se agudizam, sentidos despertos e o tango, gênero musical capaz de transmitir essas emoções, são os elementos do “novo tango” de Astor Piazzolla.
Na primeira metade dos anos cinquenta, seu tango começou a adquirir um aspecto distintivo, com temas como Para lucirse, Prepárense, Contrabajeando e Triunfal. Em 1953 realizou Três Movimentos Sinfônicos de sua obra Buenos Aires, com a qual ganhou uma bolsa para estudar em Paris, com Nadia Boulanger.
Em Paris retomou seu amor pelo tango, incentivado por Nadia Boulanger, que, após ouvir Triunfal, sentenciou: “Serás idiota? Não te dás conta? Isto é Àstor Piazzolla!”
A partir de então, em 1955, gravou uma série de tangos para bandoneon, piano e cordas e, de volta a Buenos Aires, criou o Octeto de Buenos Aires, iniciando assim o novo tango, que batizou como “música contemporânea de Buenos Aires”.
Nessa década, suas apresentações eram marcadas pelos gritos dos tangueros tradicionais e pela crítica da imprensa portenha, além da falta de conhecimento dos jovens, que preferiam o rock. Apesar disso, em 1957 compôs Tres minutos con la realidad, obra que unia de forma clara o clássico ao tango.
Em 1959, com o falecimento do pai, compôs sua melhor obra: Adiós Nonino. Regressou a Buenos Aires no ano seguinte e formou seu primeiro quinteto, Nuevo Tango.
Tanto trabalho teve repercussões, pois em 1973 sofreu um ataque cardíaco, que o obrigou a diminuir o ritmo. Mudou-se para Roma e, em 1974, compôs Libertango, muito apreciado pelo público europeu.
Em 1979 realizou Concierto para bandoneón, que compreende três movimentos: Allegro Marcato, Moderato e Presto.
Sua criatividade, em 1982, originou outra obra mestra: Le Grand Tango para violoncelo e piano. Apesar dos insultos recebidos nos anos cinquenta, em 1985 a cidade de Buenos Aires outorgou-lhe o título de Cidadão Ilustre e recebeu a distinção de “melhor músico de tango de vanguarda”.
Em 1984 realizou Live At The Boufees du Nord, interpretado em francês. Em 1986 recebeu o César 86 pelo filme El exilio de Gardel e interpretou, junto com Gary Burton, a Suite for vibraphone and New Tango Quintet, no Festival de Jazz de Montreax. No final dos anos oitenta gravou Concierto para Bandoneón, Tres Tangos para Bandoneón e Orquestra, ao vivo no Central Park.
Esse legado transcende os gêneros e, hoje, é uma referência obrigatória na composição do tango, representando um desafio para aqueles que desejam seguir seus passos, já que criou um estilo pessoal, fundindo a linguagem culta e a popular, algo novo para sua época e extremamente difícil de ser imitado no presente.