Não existe dúvida quanto ao fato de que Oswald de Andrade é um grande escritor, que para compreender toda a evolução contemporânea da literatura brasileira é preciso compreendê-lo, com admiração ou com antipatia, mas nunca com indiferença.
Mais do que isso, pode-se dizer que diante de Oswald de Andrade, o silêncio vale tanto como as palavras, é pura e esclarecedora eloquência, porque sua obra é ainda pouco conhecida por leitores medianos, praticamente ausente nas salas de aula. Quase todas as suas novelas, salvo Memórias Sentimentais de João Miramar, são artigos de bibliófilos; seus escritos teóricos, publicados em diversas antologias, se esgotaram ou, publicados postumamente, figuram em edições que costumam ser organizadas de forma deficiente.
Sobre Memórias Sentimentais de João Miramar, Antônio Cândido escreveu que é “um dos maiores livros de nossa literatura, uma tentativa seríssima de estilo e narração, ao mesmo tempo em que é um primeiro esboço de sátira social”. Também afirmou que a importância histórica “de renovador e de agitador (no mais alto sentido da palavra) [de Oswald de Andrade] foi decisiva para a formação de nossa literatura contemporânea”.
Luís Washington Vita também manifesta que “se Oswald de Andrade não criou a ‘linguagem filosófica’ brasileira, ajudou sem dúvida a formá-la”. Isso não impede que ele tenha sido tratado como um “grande escritor sem obra”, como um “curioso modernista”, “um louco” ou “um gênio”.
A esse julgamento se busca, em vão, encontrar um meio termo: “nem gênio, nem louco: um poeta”... mas, quanto a Oswald de Andrade, seguramente, não cabem meios termos.
Oswald e a Semana de 22
A Semana de Arte Moderna, que “explodiu” em São Paulo, entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, com o vigor de um tiro disparado no átrio de uma igreja, não teve bases ideológicas em sentido político.
Muitos de seus expoentes eram jovens de situação social bem definida, alguns economicamente prósperos, como Paulo Prado, Graça Aranha, Almeida Prado e Oswald de Andrade. Contudo, a intenção de “assustar” a burguesia era clara e evidente.
Representou o primeiro passo – ruidoso – do movimento modernista. Não foi um evento movido por filosofia alguma, mas ao se transformar em movimento chegou à música, à pintura, à arquitetura e a outras artes, alimentando gerações e marcando tão profundamente a literatura e a pintura brasileiras que estas jamais foram capazes, depois de 1922, de desvencilharem-se totalmente das raízes da Semana de Arte Moderna.
A partir do Manifesto Atropofágico e do Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, nenhum artista, nenhum intelectual brasileiro pode permanecer alheio ou insensível ao chamamento da vanguarda, desta vez genuinamente brasileira.
Documento por excelência do modernismo brasileiro, no Manifesto Antropofágico Oswald propõe a noção da antropofagia como um paradigma para a constituição de uma cultura brasileira.
Privilegia uma “mentalidade pré-lógica” e um regresso ao “homem natural”, em “comunicação com a terra”, onde todas as condições sociais seriam tanto eliminadas como desprezadas, a partir da “transformação do tabu em totem”, ou seja, o canibalismo se converte em símbolo da “ingestão” da cultura alheia (europeia). Enfatiza as trajetórias, a experiência “concreta” realizada afetiva e alegremente, acreditando “nos sinais, nos instrumentos e nas estrelas”.
Para conhecer e compreender um pouco melhor quem foi Oswald de Andrade, o contexto em que viveu, a extensão de sua obra e seu legado, sugerimos o documentário abaixo: