Aos quatro anos já cantava “tudo o que ouvia, e as vizinhas [davam-lhe] em troca algumas moedas ou doces”.
No ano de 1940 cantou pela primeira vez no Retiro da Severa, local que foi durante décadas o templo da música popular portuguesa. Naquela época, o fado era considerado um gênero de má reputação, porque nascera, assim como Amália, nos bairros pobres de Lisboa, como expressão das penas de sua gente. O nome provém do latim fatum, que significa algo como “sucessão de acontecimentos”.
Em 1943, em Madri, ocorreu sua primeira atuação fora de Portugal. Em sua primeira viagem à Espanha, em pleno período de pós-guerra, conheceu Manolo Escobar, Hemingway e Império Argentina, com quem cantou Ojos Verdes e La Piconera.
Fatalista, cética e humilde, a voz maior do fado, Amália Rodrigues provocou grades paixões. Em 1974 foi acusada de haver sido porta-voz da ditadura de Salazar, pouco após a Revolução dos Cravos.
De qualquer modo, foi a primeira a levar ao fado os versos de Luís de Camões e os letristas mais conhecidos do país disputavam o privilégio de ter seus temas interpretados por Amália Rodrigues. Entre as canções que imortalizou estão Vou dar de beber à dor, Uma casa portuguesa, Nem às paredes confesso e Barco Negro.
Sua única aparição foi durante a Exposição Universal de Lisboa, quando cantou diante de um público nostálgico. A artista passional, que sempre se definiu como uma pessoa “desencantada, desiludida e demasiadamente idealista” possuía todas as qualidades necessárias ao fado, essa música melancólica, triste, dramática, à qual dedicou cinquenta e oito anos de sua existência e da qual foi a embaixadora no mundo.
Faleceu em Lisboa, aos setenta e nove anos, em 6 de outubro de 1999 e foi sepultada no cemitério lisboeta dos Prazeres, após um funeral de Estado na Basílica de Estrela. O governo decretou três dias de luto oficial pela morte da mulher extraordinária que é símbolo nacional português.