Nascido em Leipzig, no dia 22 de maio de 1813 e falecido em Veneza, em 13 de fevereiro de 1883, sobre ele escreveu seu rival Rossini, em 1867, que havia modificado completamente o papel da orquestra em uma ópera, obrigando seus artistas não somente a cantar, mas também a atuar interpretando matizes psicológicos e dramáticos de uma obra.
“Gosto da música de Wagner mais do que qualquer outra música. É tão alta que se pode falar o tempo todo sem que as pessoas ao redor ouçam o que se está dizendo”, escreveu Oscar Wilde em O retrato de Dorian Gray.
Tchaikovsky comentou: “Depois das últimas notas de Götterdämmerung [a quarta e última das óperas que compoem o ciclo de Der Ring des Nibelungen] senti-me como se me libertassem de um cárcere”.
“Só existiram Beethoven e Richard [Wagner] e depois deles ninguém”, comentou Gustav Mahler.
Segundo Thomas Mann, para Wagner, “a arte era uma panaceia contra todas as chagas da sociedade”.
De uma forma ou de outra, na atualidade os historiadores da música são unânimes em destacar os méritos sem precedentes do polêmico compositor na exploração emocional, na estrutura operística e na significativa contribuição para o estabelecimento de princípios de direção de uma orquestra.
A conexão entre o compositor do século XIX e o ditador do século XX existiu desde o início do partido nazista e se fortaleceu, desenvolvendo-se durante todos os anos do domínio de Hitler. É provável que não haja outro musico tão ligado ao nazismo como Wagner e nenhuma outra música tão “contaminada” com associações ideológicas ao Terceiro Reich.
Wagner, nascido de uma família de trabalhadores, desde jovem interessava-se pelo teatro e via a música como uma expansão de seu interesse pelo cenário. Decidiu dedicar-se à composição e ingressou na Universidade de Leipzig para estudar música. O casamento com a atriz Minna Planer fracassou em virtude da infidelidade de ambos e o músico mudou-se para Riga, Paris e novamente a Dresde, em busca de êxito artístico e para evitar seus credores.
Seu primeiro grande êxito foi a ópera Rienzi e, a par de sua vida como compositor, também envolveu-se com o movimento nacionalista clandestino, o que o levou a exilar-se após a Revolução de 1848. Em 1850 escreveu o ensaio Das Judentum in der Musik (O judaísmo na música), no qual negava que os judeus fossem capazes de uma criatividade verdadeira. Segundo Wagner, o artista judeu somente pode “falar imitando outros e fazer arte imitando outros; não pode falar, escrever ou criar arte por conta própria”.
Segundo Wagner, o judeu cultivado, contudo, seria uma pessoa sábia, culta e inteligente, que trabalhava com a arte. Quando escreveu o ensaio, tinha em mente judeus como Meyerbeer ou o próprio Mendelssohn, que com sua grande capacidade musical e sua técnica foi capaz de compor obras de grande beleza, mas apenas repetindo, segundo Wagner, o que outros há haviam inventado: Mendelssohn imitava a música de Bach, baseando-se em sua formalidade. Não conseguiu compor música à altura de Beethoven que fora, para Wagner, o último grande gênio: "sua música tinha paixão e alma, era genuína, puramente romântica".
Afirmava também que estava fora do alcance da criatividade própria dos artistas judeus criar paixão, apesar de serem capazes de imitar a música de outros, usando-a como uma ferramenta. Os judeus cultos se encontrariam em um ponto intermediário e quando criavam arte, por mais que dominassem a técnica, não conseguiam “chegar ao coração”. Wagner considerava que não eram capazes de compreender a música do um ponto de vista criativo ou emotivo e apenas respondiam com acréscimos às necessidades próprias dos negócios. A arte, para ele, havia se convertido, nas mãos dos judeus, em um “artigo comercial de luxo”.
Sob essas acusações, que parecem frívolas e impessoais, se escondem muitas das ideias estéticas do compositor, que se assentaram, nos anos seguintes, com força no ideário coletivo alemão. Naquele momento, Wagner buscava criar uma “obra de arte total” na qual a música, a literatura e as artes cênicas se unissem em uma simbiose perfeita. Pensava que depois da Grécia clássica, quando as obras apresentavam um equilíbrio perfeito entre estas manifestações artísticas a arte entrara em decadência. Os libretistas buscavam a supremacia da palavra sobre a música nas óperas, enquanto os músicos pretendiam o contrário. As artes cênicas, por sua vez, não eram mais do que um objeto dedicado a servir às anteriores. A ideia de Wagner era criar uma obra dramática completa, verdadeira.
Em seu ensaio, afirmava que não havia ao seu redor mais do que compositores corruptos pela busca exclusiva do benefício econômico. As óperas eram compostas uma após a outra sem outro desejo que não o de arrecadar dinheiro e por isso eram frias, sem graça e sem paixão. A música havia se convertido em um mero entretenimento para um público aborrecido, que já não era exigente. As aspirações da burguesia capitalista e o egoísmo o ressentiam, assim como a outros pensadores de sua época e Wagner representou essas pretensões na figura do judeu.
Em Zurich, sofreu dificuldades econômicas durante anos e sua lenta ascensão para a fama e o dinheiro iniciou quando Luís II chegou ao trono bávaro, em 1864. Com o apoio financeiro do rei, voltou à Alemanha com a esposa. Também iniciou um romance com Cosima von Bülow, o que, junto com suas controvertidas óperas, arranhou sua reputação e foi o motivo de muitas pressões para que abandonasse Munique.
Apesar disso, casou-se com Cosima, com quem teve três filhos. A família se estabeleceu na cidade bávara de Bayreuth, onde construiu um teatro de ópera especial para a estreia de seu ciclo de quatro óperas épicas: Der Ring des Nibelungen.
Durante os anos seguintes, sua popularidade cresceu tanto como o seu compromisso público com o antissemitismo. Apesar do seu ódio pelo judaísmo, manteve amizades próximas com muitos judeus e aparentemente não apoiou nenhuma teoria racial claramente desenvolvida.
Na concepção da obra de Wagner e na análise de seu ensaio, é possível observar que não é fácil discernir, em suas ideias e na forma como as expressou, o que é antissemitismo e o que é uma simples reflexão de um ideário puramente romântico.
Uma constatação a ser feita é que caso o nazismo não tivesse derivado nos acontecimentos que tiveram lugar na primeira metade do século XX, provavelmente as palavras de Wagner não despertariam os sentimentos que despertaram posteriormente. Talvez possa, a partir disso, ser considerado injusto medir as ideias de Wagner considerando o que aconteceu quase um século depois de tê-las expressado. Suas palavras não parecem ter mais base que as ideias nacionalistas vigentes em seu tempo.
Para Charles Osborne, o que resulta claro é que o compositor, de princípios fortes e duros – como assinalam muitos de seus biógrafos e estudiosos de sua obra –, pouco aberto a críticas ou a ser superado por outros compositores, identificou aos judeus como a principal causa da degeneração e mercantilização da música em sua época e, muito provavelmente, de algumas das dificuldades pelas quais passou durante a vida.
É claro também, que na atualidade, como também para a maioria de seus contemporâneos, suas peças não são consideradas antissemitas, compreendendo-se que suas posições antissemitas se circunscrevessem à crítica e não a sua criação artística.
Wagner é um grande compositor, um majestoso talento musical e uma das mais controversas e maiores expressões do pensamento alemão de seu tempo, de cujas ideias apropriou-se o Terceiro Reich, o que não obscurece sua genialidade.