Com quinze anos teve contato com o saxofone, tendo ouvido notícias da existência do instrumento em outra cidade e viajando durante horas em um trem para conhecer o instrumento, que também aprendeu a tocar sozinho. Posteriormente, também aprendeu a tocar piano.
Sua intuição vinha de ouvir, desde pequeno, a banda filarmônica de Coromandel. O fato de ter ouvido absoluto facilitou a aprendizagem e a desenvoltura para compor, fazer arranjos e tocar diversos instrumentos, com pleno domínio de teoria musical, sem nunca ter tido um professor.
Em meados dos anos trinta começou a tocar em emissoras de rádio, consagrando-se na década de quarenta como compositor e instrumentista ao acompanhar artistas como Carmen e Aurora Miranda, Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas, Marlene e Emilinha Borba.
O repertório de Abel Ferreira incluía desde peças de Chopin até a música regionalista. Entre o baião, o choro, o samba, a valsa, com composições próprias ou interpretando outros compositores, percorreu vários países americanos, europeus e asiáticos na década de cinquenta, divulgando a música brasileira.
Entre 1964 e 1965 voltou à Europa e, novamente, em 1968, esteve na então União Soviética e outros países.
Tocava com originalidade e seus improvisos são ao mesmo tempo marcas registradas e provas incontestáveis de um genial talento. Herdeiro do estilo de Pixinguinha, foi um dos precursores da “escola brasileira de sopro”. Também é herdeiro do clarinetista Luís Americano.
Sua volta à atividade artística data de 1975, ano em que o choro voltou à cena cultural brasileira, sendo criado o Clube do Choro do Rio de Janeiro. Também participou do Projeto Pixinguinha como divulgador do choro por todo o território brasileiro, juntamente com Ademilde Fonseca.
Faleceu em 13 de abril de 1980, no Rio de Janeiro e, em 1995, os filhos doaram ao Museu da Imagem e do Som a sua coleção, composta de inúmeras peças, além de dois de seus instrumentos musicais: o saxofone e o clarinete.
É o clarinetista mais conhecido no Brasil, cuja contribuição para construir um repertório de música brasileira e para enriquecer as raízes culturais do choro e da seresta.
A forma como tocava, profunda e envolvente, e o enorme talento e sensibilidade tornaram Abel Ferreira inesquecível, através de composições como Chorando Baixinho, Doce Melodia e Acariciando.
A cultura brasileira, cuja evolução tanto deve a Abel Ferreira, presta tributo à sua grandeza no dia de hoje.