Escreveu música de câmara e algumas obras para orquestra e publicou, dentre outros livros, um ensaio sobre Joyce, um panorama da ficção contemporânea e várias novelas como Enderby por dentro, Nada como o sol, Sementes malditas, A última missão e Poderes terrenos.
A maior parte de sua obra literária se situa no campo da ciência de ficção e da literatura fantástica e a sua obra mais conhecida - A laranja mecânica - se inscreve precisamente neste gênero.
Esse foi o caminho que começou a ser percorrido por Anthony Burgess em 1959, quando decidiu converter-se em um escritor profissional sem que isso implicasse, sequer minimamente, em um critério de valor. Significava apenas, como ele mesmo confessou anos mais tarde, “o desempenho de um ofício ou ministério com a dupla finalidade de pagar o aluguel do apartamento e de comprar álcool”.
Era movido também por uma razão mais plausível: os médicos, que o haviam diagnosticado com um tumor cerebral, prognosticaram que viveria no máximo por mais um ano e sua intenção era assegurar um futuro para a mulher com quem havia compartilhado o leito e o vinho.
Seus primeiros escritos, premidos pela morte anunciada e que carregam um forte componente autobiográfico, seja por evocarem os anos vividos na Malásia, seja por delinearem personagens baseados em sua experiência de vida (o filólogo Edwin Spiindritf, de O doutor está doente é diagnosticado também com um tumor cerebral), quase não têm êxito algum, comercial ou de crítica.
Como a morte “lhe prega uma peça” ao não acontecer no prazo prescrito, com o agravante de que sua esposa vem a falecer antes dele, dedica-se a trabalhos que rendem frutos financeiros mais imediatos. Desdobra-se então na atividade de crítico literário, o que não apenas lhe garante ganhos, derivados dos pagamentos por suas colaborações, como também lhe traz a oportunidade de ganhos maiores, com a venda, a menor preço, de livros que algumas editoras lhe enviam para que os avalie.
Até maio de 1962, quando surge A laranja mecânica – um retrato pateticamente profético da violência juvenil, ambientado na década de setenta e que se tornou conhecido, sobretudo, pela versão cinematográfica feita por Stanley Kubrik, sua situação começa a reverter.
Embora na Inglaterra o livro tivesse vendas piores do que seus livros precedentes, ao menos na ótica da crítica (pois foi igualmente mal recebido pelos críticos ingleses), o livro foi favoravelmente acolhido pela crítica norte-americana.
À extensa obra de Burgess, que inclui títulos como O infiltrado, Enderby por dentro, Poderes terrenos, dentre outros, se agrega uma não menos sólida obra ensaística em torno de figuras como James Joyce e William Shakespeare.
Cabe também ressaltar suas incursões pela música, como compositor e como crítico, seu trabalho como conferencista e uma série de poemas – alguns celebrados por T. S. Eliot – que atribui aos personagens de seus livros, versos nos quais alenta uma fina veia poética, previsível em um criador para quem a linguagem quase não possuía segredos. Foi um notável linguista e dois exemplos comprovam suas qualidades: criou a linguagem gutural dos homens primitivos do filme A conquista do fogo e o nadsat, a linguagem dos protagonistas de A laranja mecânica (baseada principalmente na língua russa).
Como compositor, escreveu cerca de duzentas e cinquenta obras, incluindo uma sinfonia, aos dezoito anos, com peças para flauta e piano. Sua música abrange uma grande variedade de gêneros e estilos: sinfonias, concertos, óperas e musicais, música de câmara para piano, um ballet, uma trilha sonora, peças ocasionais, canções e outras composições variadas.
Em suas composições, a música clássica, as canções populares e o jazz confluem criando um estilo eclético, com grande influência de Debussy e da escola inglesa de Elgar, Delius, Holst, Walton e Vaugham Williams.