Filho de um casamento muito bem ajustado - seu pai era alto funcionário do Ministério da Justiça e sua mãe era filha de um diplomata e descendente de uma genealogia de advogados e funcionários públicos -, não viveu nem compôs sua obra como o aristocrata que era.
Realizou seus primeiros estudos no College Rollin, onde desenvolveu o gosto pelo desenho. Embora o desejo do pai fosse que se tornasse um advogado, decidiu estudar desenho, saindo do país após ser rejeitado pela escola naval e embarcando para o Brasil, em dezembro de 1848.
Quando regressou, após um novo fracasso na tentativa de ingressar na escola naval, venceu a oposição paterna e passou a estudar com o prestigiado pintor Thomas Couture. Apesar da instrução rigorosa e acadêmica a que foi submetido não ser de seu agrado, durante seis anos adquiriu a habilidade e a técnica que o faria sobressair entre muitos pintores da época.
Após, estudou as obras dos grandes mestres em museus, para completar sua instrução. Juntamente com Albert de Balleroy, até 1856, estabeleceu seu próprio estúdio, onde começou a ser conhecido, recebendo influências do Parnasianismo literário e da arte espanhola.
Em 1853 apresentou a obra Le Déjeuner sur l'Herbe que, ainda que tenha sido realizada com uma técnica revolucionária, foi rejeitada pelos tradicionalistas, por incluir uma mulher nua em meio a um grupo de homens vestidos. Ainda assim, alcançou notoriedade e foi defendida por artistas de vanguarda que se integrariam ao Impressionismo.
No mesmo ano, casou-se com Suzanne Leenhoft, que anos antes havia sido sua professora de piano e que, na época do matrimônio, tinha um filho de onze anos (que possivelmente era filho do pintor), que foi modelo em várias de suas obras.
Em 1865, o retrato de uma mulher nua voltou a ser motivo de controvérsias e, por isso, foi exposto sob a proteção de guardas armados e colocado a uma altura que o afastava dos críticos, mas também tornava impossível sua apreciação.
Incomodado pela atitude negativa para com sua criação, Manet mudou-se para a Espanha, onde permaneceu por um tempo. Regressando à França, como a rejeição à sua obra ainda permanecesse, decidiu exibi-la em praça pública, em 1867.
Durante a guerra franco-prussiana Manet serviu na frente francesa e regressou a Paris pouco antes da instauração da Comuna, em 1871. Em 1873 exibiu Le Bon Bock, com grande êxito, e um ano depois participou da primeira exposição do movimento que se tornou conhecido como Impressionista. Alcançou a fama e o reconhecimento durante seus últimos anos de vida e, sobretudo, após a morte.
Manet nunca deixou de ser atraído e, ao mesmo tempo, rejeitado pelos críticos e pelos órgãos oficiais da arte. Não era um boêmio e seu ideal não era entregar-se às paixões ou viver da arte. Ao mesmo tempo, era incapaz de resignar-se e encaixar-se àquilo que desejavam dele. As duras críticas que sofreu o afetavam profundamente, mas sempre voltava para tentar ser aceito.
Ao contrário de outros artistas de sua geração, como Edgar Degas ou Paul Cézzane, acreditava que expor no Salão de Paris era o que todo artista deveria aspirar e relegava a um segundo plano os circuitos independentes. Porém, suas pinturas falavam por ele, revelando-o como um criador persistente e firme, que não sacrificaria nada para chegar à fama.
Suas ideias políticas não eram segredo: apesar de pertencer a uma família burguesa, econômica e politicamente muito bem situada, era republicano, de esquerda e inimigo do Segundo Império Francês de Napoleão III. Era amigo íntimo do escritor e pai do Naturalismo, Émile Zola, do político León Gambetta (partidário do sufrágio universal e da eliminação dos títulos nobiliários) e de Jules Ferry, fervoroso defensor da República.
Na técnica, praticou o radicalismo, eliminando os meios tons. Suas figuras tinham sombras, mas utilizou-as livremente e também estabeleceu o direito do artista a pintar com as cores e as tonalidades que lhe agradassem e não com aquelas que supostamente seriam as mais convenientes. Essa é a premissa básica e poderosa de sua arte, que impulsionou o Impressionismo e mudou os rumos da pintura moderna.
As constantes contradições de seu caráter foram uma grande vantagem para sua arte, porque era capaz de combinar o que parecia impossível: os mestres espanhóis e venezianos, as fotografias, a gravura, as xilografias japonesas... Revolucionou a arte, no século XIX, inventando um novo estilo, fundindo esses elementos não por pura extravagância, mas pela necessidade de ser um homem de seu tempo e continuar sendo fiel aos seus predecessores.
Manet, sem sombra de dúvidas, pode ser considerado o último mestre clássico e o primeiro mestre da pintura moderna.
A resistência da crítica
A primeira delas é Le Déjeuner sur l’Herbe, cuja contemporaneidade causou a ira do público e da crítica. Manet queria pessoas reais na cena, distantes da perfeição divina do Renascimento. A luz sobre os personagens é descaradamente fotográfica e a cena tem um enfoque real: o nu não pode ser disfarçado. A perspectiva caprichosa (a mulher ao fundo é desproporcional em relação às figuras em primeiro plano) e as cores, nada canônicas, desagradaram aos críticos.
A obra, pintada entre 1862 e 1863, é uma homenagem a Concerto Pastoral, do renascentista italiano Giorgine e às gravuras que Marcantonio Raimondi fez a partir da obra de Rafael, O juízo de Paris. Contudo, nem as inspirações de renome evitaram que o quadro fosse direto ao Salão dos Rejeitados, onde eram expostos os trabalhos que horrorizavam o júri do Salão de Paris, com a consequente fúria dos críticos, que os atacavam ferozmente.
A orquídea no cabelo, o gato e o calçado caído sobre a cama são símbolos lascivos que desafiam a pureza da Vênus renascentista. A mulher real, sob uma crua luz branca e cobrindo os genitais com firmeza e domínio da situação causou indignação no público. Até mesmo após a morte de Manet, quando se converteu em celebridade e a maioria de seus quadros foi vendida, Olympia continuava sem comprador.
Quando regressou a Paris, apostou nessa sensação de leveza pintando um menino que tocava na banda musical da Guarda Imperial. A lista negra da calça do uniforme delimita o contorno da figura, com uma técnica semelhante à utilizada na caligrafia japonesa. A suavidade das formas e o contraste de cor original, que evita os semitons, é também característico das gravuras japonesas. O quadro, de estilo radical, também não passou pelo filtro do júri do Salão de Paris.
A pequena localidade de Argenteuil era um destino comum à burguesia de Paris e local de residência do pintor Claude Monet, que montara um estúdio em um barco. Ambos – Manet e Monet – passavam o dia navegando e pintando e Manet desfrutava da companhia do amigo impessionista. Apesar da proximidade entre seus ideais artísticos, Manet não pertenceria jamais ao Impressionismo, em virtude de suas ânsias em satisfazer as exigências do Salão de Paris.
Contudo, o quadro também foi rejeitado pelos críticos, que não compreendiam a composição radical, com personagens tão em primeiro plano que pareciam “sair” da tela.
A obra mostra um bar de um famoso cabaret parisiense e foi vista por alguns especialistas como uma reformulação de Las Meninas, de Velázquez. Ilustra, dispostos sobre o balcão, objetos delicados: laranjas em uma fruteira de cristal, duas flores em um copo, garrafas de diferentes formas…
A pintura foi sua última grande contribuição à visão moderna da pintura. Em 1883, uma gangrena, derivada de um grave problema circulatório, provocou a amputação de uma de suas pernas e, dias após faleceu, aos 51 anos.