Sobre a infância difícil e a percepção da crueza da vida que marcou seu trabalho como escritor, escreveu:
(O cheiro de coisa viva: entrevistas, reflexões dispersas e um romance inédito: O estadista. Rio de Janeiro: Graphia, 1995, p. 8)
Essa origem também influenciou suas ideias e seu envolvimento político. Filiado ao Partido Republicano na década de vinte, foi preso no Rio de Janeiro em 1935, por defender ideias marxistas, filiando-se então ao Partido Comunista, pelo qual foi eleito deputado estadual constituinte em 1947.
Ainda na prisão, recebeu a notícia de que Os Ratos recebera o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, embora sua obra tenha permanecido praticamente esquecida até 1944, quando a primeira crítica sobre o livro foi finalmente escrita.
Relegada a um espaço secundário nas letras brasileiras, a obra de Dyonélio Machado nunca foi visível, mesmo na década de setenta, quando seu nome foi inscrito nos livros da História da Literatura gaúcha e brasileira.
Foi também jornalista, integrando as equipes de diversos jornais porto-alegrenses, veículos que utilizou sempre para defender seu ideário político.
Apesar da saúde frágil, alcançou noventa anos de vida, embora vivendo períodos de enfermidade nos quais ditava à esposa os seus livros. O pessimismo e a solidão de alguns de seus personagens têm sido ressaltados por alguns críticos como um espelho dessa condição, mas, na verdade, a leitura de sua obra revela que são apenas aspectos acessórios de uma narrativa muito mais rica.
Seus personagens são, via de regra, pessoas depressivas, mas em consequência da própria opressão capitalista, que magistralmente retrata e critica, e também retratos da vida urbana. Vivem na premência de sobreviver e essa luta constante, essa incapacidade de viver oprimidos pelo sistema, por vezes, faz com que percam o senso da realidade.
Temas como a morte, a prisão, a opressão política e econômica perpassam seus contos, seus poemas, seus romances, seus ensaios. Embora desconhecido, inclusive, de muitos gaúchos, Dyonélio Machado é um escritor poderoso, cuja obra, não se inscreve unicamente na paisagem urbana de Porto Alegre, mas nos recônditos da mente de seus personagens (e que encontra, inevitavelmente, reflexos nos recônditos da mente de todos nós).
Basta a leitura de um único livro para que nos apercebamos não apenas de seu valor literário, mas de sua lucidez e humanidade.