Não foi um escritor prolífico, tampouco uma figura literária de projeção em seu tempo, obscurecido por nomes como Victor Hugo e Alexandre Dumas.
Apesar disso, a clareza com que enfrentou os padrões estabelecidos e as normas literárias predominantes na época, junto à sua sinceridade incômoda, contribuíram para que fosse admirável aos seus contemporâneos, os quais, através de suas obras, foram capazes de compreender seu tempo e a si próprios – social, cultural e filosoficamente.
Em sua obra se vislumbra a misteriosa e permanente atração do homem pelo mal, a perversidade como fonte inesgotável de prazeres motivados por inclinações satânicas – o próprio amor tem sua voluptuosidade única e suprema na certeza de fazer o mal.
Não diz somente que apenas o homem forte e seguro de si mesmo não necessita do consolo de uma crença, enquanto que os que caem pela desgraça, sentindo-se culpados, buscam a Deus, mas, sobretudo, que “ser um grande homem e um santo para si mesmo é a única coisa que importa”.
Especialmente em sua obra mais conhecida, As flores do mal, se encontram os temas que mais o preocuparam: o amor, o avanço inexorável do tempo, a relação com as mulheres, a brevidade da existência, o tédio, a morte e o papel do artista.
Nada, absolutamente nada, é capaz de acalmar sua fixação pelo nada, que o converte em verdugo de si mesmo: “Ah, tudo é abismo; - ação, desejo, sonho, palavra!”
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a
única questão. Para não sentirem o fardo horrível
do Tempo que verga e inclina para a terra, é
preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a
escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou
desaparecer quando você acordar, pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a
tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a
tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que
horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: "É hora de
embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do
Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem
descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a
escolher.