Se a influência desse aspecto foi decisiva para sua formação, também contribuiu para sua obra a experiência de três anos vividos na Europa. A soma dessas vivências tanto determinou o seu pensamento artístico como também foi motivo para a deterioração de suas relações com o governo.
Filiado ao Partido Comunista do México, sua participação decisiva na fundação do Sindicato de Artista e seu jornal – El Machete -, junto à crescente oposição à política oficial manifestada através de seus artigos, fizeram com que deixasse de receber trabalhos a partir de 1924, levando-o a dedicar-se exclusivamente à política.
Reiniciou sua trajetória artística nos anos trinta, mas o que determinou o rumo de sua vida foi a militância ideológica, o que lhe valeu sucessivas prisões, o exílio em Taxco, a participação na guerra civil espanhola, o desterro no Chile e o envolvimento no assassinato de Trotsky.
Sua última obra - Marcha de la Humanidad en América Latina hacia el cosmos – é fruto dos últimos anos de cárcere, de 1964.
Para Siqueiros, o socialismo revolucionário e a modernidade tecnológica eram conceitos intimamente relacionados e a natureza revolucionária da arte não dependia apenas do conteúdo das imagens, mas essencialmente da criação de um equivalente estético e tecnológico em harmonia com os conteúdos. Toda a sua vida artística foi dirigida pela vontade de criar uma pintura mural experimental e inovadora.
Adaptava suas composições ao que chamava “arquitetura dinâmica”, baseada na construção de composições em perspectiva poliangular. Estudava cuidadosamente os possíveis olhares dos futuros espectadores nos locais onde compunha seus murais e definia assim os pontos focais da composição. Chegou a utilizar uma câmera de cinema para reproduzir a visão de um espectador em movimento e ajustar assim a composição a esse olhar dinâmico.
Seu empenho em alcançar a harmonia entre as técnicas pictóricas e a contemporaneidade tecnológica o levou a criar, em 1936, um Laboratório Experimental, em Nova Iorque. As práticas desse laboratório buscavam integrar a arquitetura, a pintura e a escultura com os métodos materiais oferecidos pela indústria, experimentando o que denominava “o acidente pictórico”, isto é, a prática da improvisação com técnicas como a pintura sobre a areia.
Também os pingos e salpiques de tinta sobre a tela, que logo passariam a ser emblemáticas do expressionismo abstrato americano, foram práticas gestadas no laboratório de Siqueiros e assistidas por Jackson Pollock e outros jovens da primeira geração de artistas americanos.
O mural que realizou na sede do Sindicato Mexicano de Eletricistas, entre 1939 e 1949, sob o título Retrato de la burguesía, reúne a aprendizagem consolidada nas pesquisas feitas ao longo de toda a década de trinta e constitui uma das obras murais mais importantes do século XX.
Se em Retrato de la burguesia a utilização da fotografia no processo de elaboração dota o mural de um inequívoco espírito contemporâneo, em Nueva Democracia, de 1944, Siqueiros constrói um emblema intemporal do triunfo da liberdade. Mesmo que a pintura tenha 16 metros de extensão, para ele não era mais do que “um quadro grande” e as únicas obras que, segundo ele, mereciam o nome de murais, eram as que se articulavam com a arquitetura.
A integração de todas as artes, que buscou durante toda a vida, tornou-se realidade no projeto que realizou nos últimos anos de vida – o Polyforum Cultural Siqueiros (1967-1971). A edificação, concebida por Siqueiros, possui doze lados totalmente cobertos por murais, cada um com um tema diferente.
No teto abobadado do piso superior pintou Marcha de la humanidad en América Latina hacia el cosmos, que deve ser contemplado colocando-se o observador sobre uma estrutura móvel que gira no sentido narrativo das imagens e permite “transitar” pelo relato enquanto um jogo de luz e sons torna a experiência mais viva.
Apesar da sua grandiosidade, o projeto não alcançou altos níveis estéticos, embora tenha reunido uma enorme equipe de técnicos e artistas, contagiados pelo grande ideal de uma arte tecnológica e socialmente revolucionária.