O talento de um músico de jazz não pode ser medido pela idade, tampouco pela formação, pela experiência ou pelo sucesso, mas pela sensibilidade com que sua música nos alcança.
Esta é, precisamente, a definição de Eric Dolphy.
Multi-instrumentista, colaborou com os grandes nomes da época - Weather Report, Ornette Coleman, Don Cherry, Charles Mingus, o cool de Miles Davis com o Mahavishnu e outros grupos - para criar o Jazz avant-garde, que originou o movimento vanguardista dos anos setenta e oitenta do Art Esamble of Chicago.
Seu clarinete baixo e saxofone alto compuseram músicas memoráveis, como Something sweet, something tender, Last Date, Out of lunch, Naima e outras. Músicos como John Coltrane, Miles Davis, Chico Hamilton, Charles Mingus, Malachi Favors, Ornette Coleman, Charly Haden, Miroslav Vitous, Don Cherry, dentre muitos outros, fizeram parte do movimento iniciado por Dolphy.
Sua música, mesmo não tendo sido popular no princípio, pelo caráter abstrato e profundo dos arranjos, recebeu críticas positivas por parte da imprensa especializada e dos conhecedores do jazz. Talvez por não se encaixar nos arquétipos – negro, mas não dedicado ao blues ou ao hard bop; da Costa Oeste, mas não um músico cool – Dolphy demorou a tornar-se reconhecido na cena musical do final dos anos cinquenta.
Desde as primeiras gravações, deixou claro ser um seguidor devoto de Charlie Parker; tocou e gravou regularmente com o quinteto de Chico Hamilton, mas seu estilo pessoal e inconfundível apenas se manifestou quando mudou-se para Nova Iorque.
Nas gravadoras Candid Records, Prestige e Verve e nos próprios músicos de jazz foi onde encontrou maior respaldo para sua música. Sua curta carreira (faleceu aos trinta e seis anos, em 29 de junho de 1964), realizou o que muitos outros levaram muito mais tempo para conseguir: as gravadoras disputavam o privilégio de gravar sua música, ganhou muito dinheiro e sua fama chegou à Europa, à Escandinávia, à França e à Alemanha.
Dominava os instrumentos de sopro como nenhum outro, reintroduzindo o clarinete baixo dos anos vinte e chegando até o oboé, embora não exista gravação com esse instrumento.
Dolphy tinha consciência de que, apesar de todo o reconhecimento artístico e, inclusive, da publicidade de um prêmio em Downbeat (melhor novo sax alto de 1961), a vida de um músico de jazz nunca foi algo fácil e parecia prever que sua vida seria muito breve.
Por isso aproveitou todas as oportunidades que lhe ofereceu a cidade de Nova Iorque, a concentração de talentos e de gravadoras, participando em uma enorme quantidade de projetos, desde uma sessão para Sammy Davis Jr. até discos e shows de third stream, graças à sua habilidade como improvisador e leitor de partituras.
Também participou de uma série de gravações de jazz moderno, que inclui diversos clássicos. Além de sua obra como líder e membro dos grupos de Mingus e de Coltrane, esteve presente em The Wonderful World of Jazz de John Lewis, The Blues and the Abstract Truth de Oliver Nelson, Percussion Bitter Sweet de Max Roach, Ezz-Thetic de George Russell e o Free Jazz de Ornette Coleman, dentre outros.
Em sua memória foram editados livros, produzidos filmes, vídeos e documentários. Conferências em universidades e escolas de jazz de todo o mundo estudam o ícone do jazz que Dolphy representa, a controvérsia de sua obra e a grandeza de seu talento.