Sua história está vinculada a uma breve, mas intensa trajetória. Sobre os seus nove anos de carreira já se disse praticamente tudo.
Conheceu a fama no final dos anos sessenta, iniciando com o grupo universitário The waller creek boys, após como cantora principal do grupo Big Brother and the Holding Company e, posteriormente, desenvolvendo uma definitiva e contundente carreira solo.
Três grandes festivais marcaram sua trajetória. O primeiro, no parque Golden Gate, de São Francisco. O segundo, que a consagrou, em Monterrey e, em 1969, o triunfo em Woodstock.
A intensidade de sua vida corresponde à intensidade de seu talento e de sua arte. Com apenas quatro álbuns, foi considerada uma das representantes máximas de seu tempo e suas canções de blues, especialmente, chegam direto à alma de quem as ouve.
Seu surgimento supôs uma revolução que demonstrou a força das bandas da Costa Oeste dos Estados Unidos, que começavam a reclamar um novo som de uma geração comandada por grandes grupos, como The Doors, Jefferson Airplane, Grateful Dead, Santana ou Sly and the Family Stone.
Durante a gravação de seu último álbum, Pearl, sua vida estava “desmoronando” entre fracassos sentimentais e um profundo sentimento de solidão. Na noite anterior à sua morte, havia gravado a versão de Mercedes Benz e programado acrescentar, no dia seguinte, sua voz a Buried alive in the blues, o que nunca chegou a fazer.
Faleceu em 4 de outubro de 1970, devido a uma overdose de heroína, aos 27 anos, idade funesta que a enlaça com as mortes de outras estrelas jovens, como Jimmy Hendrix, Jim Morrisson, Brian Jones, Alan Wilson e Amy Winehouse.
As dez canções de Pearl não estavam concluídas totalmente quando o disco chegou às lojas, em janeiro de 1971, convertendo-se no trabalho de maior sucesso de Janis, um álbum no qual se mostra todo o seu poder vocal, onde sua voz destila força, paixão, vontade de viver e tristeza.
As circunstâncias de sua morte foram confusas e ainda hoje despertam diversas hipóteses. Janis faleceu por volta da 1h45min do dia 4 de outubro e já havia tido outras overdoses embora, desta vez, não houvesse ninguém com ela.
Vários elementos no episódio de sua morte nunca foram explicados, como a extrema pureza da heroína que a matou e o fato de que as seringas que usou não foram encontradas, gerando especulações de que poderia haver uma pessoa envolvida. A mídia da época, em razão dessas dúvidas, atribuiu um caráter misterioso à notícia.
Sua amiga Peggy Caserta, no livro Going Down With Janis, admitiu que havia prometido a Janis que a visitaria na noite de 2 de outubro, mas permaneceu em uma festa, em outro hotel de Los Angeles. Contou também que ouviu do traficante que vendeu a heroína a Janis que a artista expressou a ele sua tristeza por haver sido abandonada por dois amigos na noite anterior.
Em seu testamento, Janis Joplin doou US$ 2.500 para que se fizesse uma festa em sua honra quando morresse. Em torno de duzentas pessoas foram convidadas para a festa e no convite estava escrito: "Os drinks são por conta de Pearl". O evento, em 26 de outubro de 1970, ocorreu em Lion's Share, localizado em San Anselmo, Califórnia.
A pérola
Essa intensidade é clara e potente em vários momentos, demonstrada em muitas das coisas que disse como, por exemplo: "Eu não quero nada pela metade. Tenho 26 anos de idade. Tudo o que me preocupa são os 26 e não os 95. Eu não quero que me devolvam o investimento em alguns anos. Eu quero agora, agora, agora..."
A partir da morte de Janis, toda a sua vida e arte se tornaram mitológicas. Sua voz magnífica, de uma sensibilidade extrema, a tornou uma das maiores expressões da contracultura dos anos sessenta e permaneceu - permanecerá - viva e única através do tempo.
Janis foi a primeira mulher a ser considerada uma grande estrela do rock and roll. Amava o rock, mas também o folk e o blues, estilos aos quais dedicou sua solitária existência, influenciada pelas intérpretes de blues Odetta e Bessie Smith e por um dos grandes do soul, Otis Redding.
Dotada de uma energia transbordante, o desacordo com a sociedade de consumo foi um de seus eixos de ação. Rebelde, contemporânea de Joan Baez, com quem compartilhava as mesmas ideias e propósitos, mostrou, contudo, estilos e atitudes radicalmente diferentes.
Vários documentários e musicais sucederam a morte de Janis e buscaram contar sua vida e sua trajetória pessoal e artística. Atualmente, a esperada cinebiografia da cantora, que já teve o diretor brasileiro Fernando Meirelles como cotado para a direção, está sendo produzida sob o comando do canadense Jean-Marc Vallée.
O filme, com o título provisório de Get It While You Can - em referência ao famoso cover que interpretou da canção original de Howard Tate e que foi um dos sucessos do álbum Pearl, junto a Cry Baby e Me and Bobby McGee – conta com a produção de Nathan Ross, Andrew Sugerman e Ron Terry.
O que se pode ressaltar sobre Janis, acima de tudo, é que se nos anos sessenta o estrelato na música era “coisa de homens”, se o blues sempre houvera sido uma música consagrada na voz de músicos negros, ninguém se elevou com tamanha personalidade e força como ela.