Ao ser-lhe concedido o Prêmio Nobel de Literatura em 2003, a Academia Sueca respondeu a um desejo de premiar os escritores que, além de valores literários, tenham demonstrado comprometimento com causas nobres ou justas. Em nota, a Academia afirmou: “os romances de J. M. Coetzee são caracterizados por uma composição bem construída, diálogos significativos e brilhantismo analítico [...] Ele é um cético com escrúpulos, implacável em sua crítica do racionalismo cruel e da moralidade cosmética da civilização ocidental”.
Foi o segundo escritor sul-africano a receber o Nobel: além dele, no ano de 1991, Nadine Gardimer, havia sido agraciada com o mesmo prêmio.
Com um estilo sóbrio e ao mesmo tempo incisivo, o escritor é um dos mais apreciados em língua inglesa e o único que conseguiu em duas ocasiões o prestigiado Booker Prize, o maior prêmio das letras britânicas. A primeira vez recebeu o prêmio pelo romance O Cio da Terra: Vida e Tempo de Michael K., em 1983; a segunda vez em 1999, por Desonra. Para a crítica, sua prosa é “transparente e dura como o diamante”.
Herdeiro das formas literárias e da voz britânica, Coetzee é capaz de relatar sem muito alarde a agressão de um marido contra sua mulher e, na continuação e sem perder a compostura, narrar a festa de aniversário do filho do casal.
Estudou inglês e matemática na Universidade de Cape Town, onde posteriormente foi professor de literatura. Estudou também na Universidade do Texas, onde escreveu uma tese sobre Samuel Beckett, uma das principais influências em sua literatura, junto a Joseph Conrad, Ford Madox Ford, Franz Kafka e Fedor Dostoievsky, escritores que se refletem claramente em suas obras, muitas elas de alcance descritivo e crítico em relação à realidade violenta e racista de seu país.
Nos anos sessenta viveu na Grã Bretanha, onde trabalhou como programador para a IBM e depois nos Estados Unidos, onde foi professor de inglês na Universidade do Estado de Nova Iorque, em Buffalo. Nesse período envolveu-se nos protestos contra a Guerra do Vietnam, cujo contexto incluiu em seu primeiro livro, Dusklands (1974), no qual narra duas histórias, uma gerada pelo conflito asiático e outra na época colonial africana.
Em 1977 publicou In the Heart of the Country, romance que se desenvolve no contexto de uma granja da África do Sul; Waiting for the Barbarians (1980), sob influência de Joseph Conrad; Life & Times of Michael K (1983), com clara referência a Franz Kafka; Foe (1986), onde recria originalmente o Robinson Crusoé de Daniel Defoe; Age of Iron (1990) e Disgrace (1999), onde incide na vinculação de intensos conflitos emocionais e no retrato sociopolítico.
The Master of Petersburg (1994) tem como protagonista Fedor Dostoievski; The Lives of Animals (1999) manifesta sua inclinação ao ativismo pelos direitos dos animais; Elizabeth Costello (2003) é centrado na figura de uma escritora australiana que oferece conferências ao redor do mundo e Slow Man (2005) estabelece uma reflexão íntima sobre a vida, sob a perspectiva de um homem inválido.
Dentre suas obras mais recentes, destacam-se Here and now: Letters (2013) e The Childhood of Jesus (2013).
Além da ficção, também escreveu livros de memórias, como Boyhood (1997) e Youth (2002) e Summertime (2009), além de ensaios como Giving Offense (1996), contra a censura, Inner Workings: Literary Essays, 2000-2005 (2007) e Diary of a Bad Year (2007).
Vários de seus livros foram traduzidos para o português, dentre os quais À Espera dos Bárbaros, O Cio da Terra: Vida e Tempo de Michael K., A Idade do Ferro, O Mestre de Petersburgo, Cenas de uma Vida, Desonra, A Vida dos Animais, Juventude, Elizabeth Costello. Homem Lento, Diário de um Ano Ruim e Mecanismos Internos.