Também foi editora da Random House, crítica literária e realizou inúmeras conferências sobre literatura afro-americana.
Durante essa época, publicando livros de literatura, de História e biografias de escritores negros, contribuiu intensamente para retirar a literatura afro-americana do ghetto, editando The Black Book, em 1974, que envolve um período de mais de trezentos anos da história dos negros norte-americanos.
Desde jovem demonstrou interesse pela literatura, mas apenas em 1970 publicou sua obra prima, The Bluest Eye (O olho mais azul), que narra a história de uma menina negra que deseja ter os olhos azuis, que é violentada pelo pai e acaba enlouquecendo.
Posteriormente, publicou Sula (1973), que relata o crescimento paralelo e a oposição entre duas mulheres negras, Sula e Nel, cujo argumento é a amizade entre mulheres em um subúrbio habitado apenas por negros.
Com Song of Solomon (A Canção de Salomão), de 1977, ganhador do National Books Critic Award, consagrou-se como uma das autoras contemporâneas mais importantes dos Estados Unidos.
Ao longo de sua trajetória recebeu inúmeros prêmios, destacando-se o Prêmio Nobel de Literatura, em 1993, que obteve em reconhecimento por sua narrativa, caracterizada por uma força visionária e alta qualidade poética, que representa uma dimensão essencial da realidade americana.
Em 1998 recebeu o Prêmio Pulitzer pela obra Beloved (Amada), escrito em 1987 e desde 1981 é membro da Academia Americana de Artes e Letras.
O livro Beloved foi adaptada para o cinema em 1998. O filme, aclamado pela crítica, é dirigido por Jonatham Demme e estrelado por Oprah Winfrey e Danny Glover.
Entre suas obras figuram também Tar Baby (1981), Jazz (1992), Playing in the Dark (1993), Paradise (1998), Love (2003), A Mercy (2008) e Home (2012).
Toni Morrison conseguiu expor a face dolorosa da problemática racial sem deixar de incluir toques humorísticos. Por vezes incursiona na narrativa filosófica, sem deixar de lado temas morais, do ponto de vista do homem e da mulher negra.
Por isso, revela um esforço quase sobre-humano para que seus personagens sejam fiéis representantes da forma como os negros manejam os assuntos morais. Também explora a influência das heranças culturais do afro-americano dentro da ética universal, principalmente na tensão existente entre o indivíduo, a sociedade, o bem e o mal.
Morrison parece ter uma obsessão pela palavra, empregando os termos mais inauditos, em franco contraste com os personagens cotidianos. Isto faz com que seu personagens comuniquem uma enorme carga psicologia.
A corrente narrativa “fantasmagórica” também encontrou abrigo em seu trabalho, porque na novela Beloved, uma mãe afrodescendente - durante o tempo de transição no qual os Estados Unidos estava dividido entre os estados escravistas e os estados livres e os escravos costumavam fugir dos escravistas para os livres -, cansada de fugir e dos abusos físicos, psicológicos, socioeconômicos, matou seus filhos para evitar que sofressem como ela e o marido. Seu esforço é quase em vão, pois somente consegue matar uma das filhas. A menina retorna para atormentá-la cruelmente, pois muda-se com eles e exige roupas novas e até um bolo de aniversário. Para acrescentar ainda maior horror ao caso, não se sabe ao certo se a menina é um fantasma ou é real, se todos alucinam os fatos ocorrem em realidade.
Digerir alguns dos aspectos de sua obra é difícil, pois não é fácil compreender, por exemplo, um homem para quem a única forma de expressão afetiva é a sexual e que por isso acaba por violentar a própria filha, como em The bluest eyes, assim como o fato de alguns personagens recorrerem à loucura ou ao suicídio como a única saída – e mais, ainda, quando se pensa que muitas das coisas que narra foram realidades das quais ainda hoje existem marcas profundas.
Na prosa de Morrison se ouvem os eternos tambores africanos, a musicalidade e a fala popular do negro norte-americano; as repetições que impregnam seus escritos lhes impõem um ritmo característico. Inclusive dentro da sintaxe e do ritmo da fala dos personagens se encontram implícitos códigos secretos típicos da literatura dos afrodescendentes.
Entre os seus detratores se encontram alguns que a consideram excessivamente inclinada aos temas afro-americanos, embora estes não considerem que os valores estéticos tradicionais no Ocidente sofreram mudanças profundas, que incluem as aspirações artísticas das chamadas “minorias” que, na realidade, são muitos mais que as “maiorias”.
Seus temas – escravidão, culto aos ancestrais, relações de poder entre homens e mulheres, maternidade, feminilidade, direito de expressão das mulheres -, seus personagens – negros, dementes, marginalizados ou brancos párias – dão voz aos silenciados e impõem um diálogo entre culturas que engrandece a sua criação literária.
Seu triunfo diante da Academia Sueca sobre um rival poderoso e igualmente merecedor como Léopold Sédar Senghor, o patriarca da Negritude, político, poeta e prócer do estado africano do Senegal, outro mago da palavra, por si mesmo define o poder da obra de Toni Morrison.