Nascido em 9 de janeiro de 1920, João Cabral de Melo Neto é muito mais do que um poeta pernambucano: é o poeta brasileiro que sempre buscou manter-se no plano da linguagem consciente, em uma atitude de vigília intelectual extrema, esforçando-se para não deixar fluir qualquer traço irracional, instintivo e afetivo que pudesse vir do inconsciente. Contudo, o inconsciente se infiltra generosamente pelas aberturas e entrelinhas de sua linguagem poética, garantindo a tensão estética e iluminando cantos escuros que a consciência do poeta tenta manter na obscuridade. Sua obra é construída com cuidado técnico, verificando, examinando, ponderando, revisando, organizando com acurado rigor aquilo que cria, com um tom que, à revelia de sua vontade, provoca um forte impacto no leitor, semeando a inquietude, apesar da aparente assepsia emotiva e da neutralidade que adota na sua formulação: é o homem inscrito na paisagem que percebe, mas que não se dispersa nem se estende sobre ela. Atento às contradições do Brasil, o drama do Nordeste encontrou em sua obra um eco original e intenso, ilustrado em Morte e Vida Severina, poema de traços simples e uma concepção que se distancia de suas inquietudes e exigências mais profundas. Através dele, João Cabral de Melo Neto aspirava chegar aos pobres de sua terra natal, aos ouvintes ingênuos da literatura de cordel. Ao compor o poema, não tinha, conforme admitiu várias vezes, a intenção de conquistar a simpatia dos intelectuais ou dos puristas, mas elaborar uma poesia testemunhal. Essa obstinação nunca foi alcançada, pois ao menos essa obra repercutiu grandemente e despertou o interesse e o entusiasmo dos setores cultos da sociedade. Sua inquietude foi tal que, quando felicitado por Vinicius de Moraes por Morte e Vida Severina, respondeu-lhe que essa obra não era para leitores como ele. No vídeo abaixo, a animação do poema Morte e Vida Severina, obra prima de João Cabral de Melo Neto, publicado originalmente em 1956 e adaptado para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. A animação, em preto e branco, é fiel à aspereza do texto e narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor. |
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A alma da palavra através de todas as suas possibilidades, revelando aos olhos a natureza do sentir e do pensar. O estímulo à leitura, à escrita e à criação e o auxílio para tornar possível essa magia...
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AutorNeiva Dutra Histórico
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