Envolto em uma aura de “despertar místico”, dizia coisas estranhas, como ter vindo de outro planeta, que sua missão no mundo era cumprir uma espécie de ordem cósmica e que não lembrava o lugar e nem a data de seu nascimento.
Sun Ra, contudo, viveu e morreu, como todos os homens, e jamais se pode saber até que ponto ele mesmo acreditava no que dizia, apesar dessas afirmativas terem sido uma constante ao longo de toda a sua vida, refletindo-se na música que deixou como legado.
Nascido em 22 de maio de 1914, em Birmingham, é um caso único entre os músicos de jazz - e não apenas por declarar-se um ser celestial. Considerado louco e charlatão, tachado de profeta ignorante e de farsante, alcançou um lugar privilegiado em um mundo sonoro absolutamente extraordinário, calando as vozes que o acusaram.
Em 1952, após superar uma profunda crise espiritual, adotou o nome de Le Sony’r Ra (mais tarde abreviado para Le Sun-Ra) e passou a apresentar-se à frente de seu Space Jazz Trio. Neste mesmo ano fundou, junto ao amigo Alton Abraham, o selo Saturn Records, onde gravou inúmeros discos, dentre os quais o fenomenal Jazz in Silhouette, em 1958.
Em 1955 gravou experimentando a fórmula de dois contra-baixos e, no ano seguinte, começou a gravar com regularidade empregando vários percussionistas, alcançando a estabilidade e a fama de sua banda, cujo nome se vincula ao conceito de Ra, o deus-sol egípcio.
Em 1959, após participar do filme The Cry of Jazz, de Edward Blank, mudou-se para o Canadá e, em 1961, quase por uma casualidade, o grupo estava em Nova Iorque, onde participou dos célebres Happenings do Lover East Side. Gravou para o selo Savoy o álbum que é considerado sua obra prima: The Futuristic Sounds of Sun Ra, no qual tira o máximo proveito dos timbres de cada instrumento e alcança um equilíbrio louvável entre as partituras e o improviso. Este álbum antecipa em alguns anos as formas que tornaram famoso o Art Esemble of Chicago. Com uma estrutura abstrata e iconoclasta, o álbum demonstrou uma estabilidade perfeita entre elementos do swing, blues, ritmos afro-cubanos, big-band e avant-garde. Ainda que não tenha despertado grande interesse naqueles tempos em que o rock and roll ocupava o centro da atenção musical, o disco levou Sun Ra ao círculo de músicos vinculados ao freejazz, associando-se à Jazz Composer’s Guild, ambiente no qual tocou regularmente, no clube Slung’s, até 1972.
Maiores detalhes sobre a vida, a história e a música do filósofo, poeta e "afrofuturista" Sun Ra podem ser conhecidos no vídeo abaixo, produzido em 2005 pela BBC e que o apresenta como um visionário e um pioneiro em múltiplos sentidos.