A influência mais imediata e evidente de Rilke foi sobre a entonação e a imaginação: expressou ideias com elementos físicos ao invés de símbolos, pensou o humano em termos efetivamente humanos, evoluindo para a filosofia, tendência que alcançou o clímax em Duiner Elegien (As elegias de Duíno), e em Die Sonette um Orfeu (Sonetos a Orfeu).
Rejeitando as crenças católicas de seus pais, bem como o cristianismo em geral, esforçou-se durante toda a vida para conciliar a beleza e o sofrimento, a vida e a morte, em uma construção filosófica.
Quando tantos outros encontraram um princípio unificador para si mesmos na religião ou na moral, ou na busca da verdade, Rilke encontrou impressões e esperança - e as converteu em poesia.
Aos onze anos começou os estudos em uma academia militar e, em 1891, depois de ter sido transferido para outra escola militar, abandonou-a por motivos de saúde, regressando a Praga.
Pouco depois começou a receber aulas particulares para prestar exames de admissão para a Universidade Charles-Ferdinand, de Praga. Em 1894 publicou seu primeiro livro de poesia: Leben und Lieder: Bilder und Tagebuchblatter.
No ano de 1895, matriculado no curso de Filosofia, desencantou-se com os estudos e mudou-se para Munique, aparentemente para estudar arte. Frequentando os círculos literários da cidade, várias de suas obras foram produzidas, publicou dois livros de poesia - Larenopfer e Traumgelkront – e introduziu-se na obra do escritor Jens Peter Jacobsen, influência decisiva para a sua formação.
Em uma visita a Veneza, em 1897, conheceu Lou Andreas-Salomé, casada e quinze anos mais velha, que também exerceu forte influência sobre ele. Depois de passar o verão junto a ela no Alpes bávaros, acompanhado de Salomé e do marido viajou para Berlim no final do mesmo ano e para a Itália no ano seguinte.
Seus versos, contos e peças de teatro se caracterizaram pelo romantismo nesse período. Os poemas demonstram a influência da tradição das canções populares alemãs e são comparados à obra lírica de Heinrich Heine. As obras mais populares, nessa época, foram: Vom lieben Gott und anderes (Histórias de Deus) e o ciclo romântico Die Weise von Liebe und Tod des Cornetas Christoph Rilke (A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristóvão Rilke), que permaneceu como o livro mais reconhecido do poeta durante sua vida.
A primeira coleção de poesias de Rilke, Leben und Lieder (Vida e Canções), é extremamente sentimental e nas obras posteriores, como Larenopfer (Oferenda aos lares) e Traumgekroent (Coroado de sonhos), demonstrou seu talento lírico em toda a sua expressão.
Ainda que nenhuma de suas obras seja considerada maior e que seus contos sejam considerados “imaturos” por alguns críticos, seu conhecimento da língua e o refinamento psicológico, aliados a centelhas satíricas e a uma aguda compreensão das relações humanas, tornam sua obra uma prosa brilhante.
Alguns de seus melhores contos são autobiográficos, como Pierre Dumont, que apresenta um menino dizendo adeus à mãe às portas de uma escola militar, e Ewald Tragy, uma história de duas partes sobre um menino que deixa a família e a cidade natal e que, ao mesmo tempo, luta contra a solidão e encontra uma nova sensação de liberdade.
Em 1899 realizou a primeira de duas viagens à Rússia junto a Salomé, descobrindo o que chamou sua “pátria espiritual” nas pessoas e na paisagem. Reuniu-se a Leon Tolstoi, Leonid Ósipovich Pasternak (pai de Boris Pastrnak) e ao poeta camponês Spiridon Droschin, cujas obras Rilke traduziu ao alemão. Estas viagens forneceram a ele material poético e inspirações fundamentais para o desenvolvimento de sua filosofia do materialismo existencial e da arte como religião.
Inspirado na vida do povo russo, a quem considerava mais devotamente espiritual do que outros europeus, a obra de Rilke durante este período oferece as imagens e conceitos cristãos tradicionais, mas apresenta a arte como o único Redentor da humanidade.
Pouco depois de seu regresso, em 1900, começou a escrever Das Stundenbuch enthaltend Die drei Bücher: Vom moenchischen Leben; Von der Pilgerschaft; Von der Armuth Tode und vom, uma coleção que marcou o final de uma época e foi traduzida como O Livro das Horas, que consta de três livros: da vida monástica, da peregrinação, da pobreza e da morte, compondo-se de uma série de orações sobre a busca por Deus.
Devido a esta preocupação, o livro poderia ter sido comparado a um dos escritos dos cristãos contemplativos, salvo que o padrão essencial é uma inversão desses textos. Deus não é a luz na escuridão, não é um pai, mas um filho; não é o criador, mas o criado. Ele - e não o homem - é o próximo para os homens, que se encontram infinitamente longe uns dos outros. A busca por Deus, portanto, não pode ser feita onde “um ou dois estão reunidos em seu nome”, mas é uma busca solitária.
Sempre que Rilke escreve sobre Deus, não se refere à deidade no sentido tradicional, mas utiliza o termo para referir-se à força da vida ou da natureza, ou a um todo-personificado, consciência panteísta que lentamente se dá conta de sua existência.
A extensão da ideia da evolução é inspirada, provavelmente, como escreve Eudo C. Mason na introdução a uma das edições de O Livro das Horas, “em alguma medida na ideia de Nietzsche do Super-homem” e Rilke chega à concepção paradoxal de Deus como sendo o resultado final da primeira causa do processo cósmico. Defendendo a desconsideração de todas as formas tradicionais de devoção, Rilke não nega a existência de um deus, mas insiste em que todas as possibilidades sobre a natureza da vida também devem ser consideradas como divinas.
O tema real de O Livro das Horas é a vida interior do poeta, sua busca pela compreensão e, sobretudo, os riscos dessa busca. O segundo conceito importante nessa obra é a apoteose da arte: “a religião é a arte daqueles que são pouco criativos”. Preocupa-se com o papel do artista na sociedade e com suas dúvidas quanto à crença na superioridade da poesia. Devido ao estabelecimento desses temas, O Livro das Horas se torna essencial para a compreensão de toda a obra posterior de Rilke e foi também uma de suas obras mais populares; é um livro belo, mas bastante abstrato.
Sua próxima coleção de poesias, Neue Gedichte (Novos poemas), foi influenciado por sua associação com Auguste Rodin, de quem foi secretário entre 1905 e 1906. Nesse período, sua obra adquiriu uma maior apreciação ética do trabalho, seus versos se tornaram objetivos, evoluindo de uma visão pessoal impressionista para uma representação dessa visão com um simbolismo impessoal.
Referiu-se a este tipo de poesia como Dinggedichte (poemas coisa), empregando um vocabulário simples para descrever sujeitos concretos, presentes na vida cotidiana. Depois de ter aprendido com Rodin a habilidade da observação perceptiva e, mais tarde, aprimorado essa habilidade com Paul Cézanne, Rilke manteve a capacidade de escrever para transformar suas observações, de fato, em arte e vida. A materialidade desses poemas não reflete a harmonia na qual um ser interior vive com seus “objetos”, mas um ser interior problemático que submerge nas “coisas”. Apesar desse enfoque, dirigiu-se também a temas novos, criando poemas deslumbrantes.
Nesse ponto de sua carreira, Rilke estava iniciando um período de crise em sua arte, que se revelou tanto em Novos Poemas como em seu único trabalho importante em prosa, o romance Die Aufzeichnungen des Malte (Os cadernos de Malte Laurids Brigge). Estas duas obras expressam dúvidas crescentes sobre a existência de algo superior à humanidade o que, por sua vez, leva Rilke a questionar sua poesia e a buscar um significado mais profundo para a vida, através da arte.
Os cadernos de Malte Laurids Brigge é um romance vagamente autobiográfico sobre um estudante que é o último descendente de uma família nobre (Rilke acreditava, segundo seus biógrafos, que descendia da nobreza de Carintia) e que vive, desde o nascimento, uma vida triste e pobre em Paris. Imagens da morte e da decadência e o medo da morte são presenças constantes ao longo do relato. Como a obra nunca foi concluída, o destino de Malte é ambíguo.
Em uma de suas cartas, traduzidas em Cartas a um jovem poeta, afirmou que a questão mais importante em Os cadernos de Malte Laurids Brigge é como é possível viver quando todos os elementos da vida são totalmente incompreensíveis. O livro é também considerado com uma espécie de catarse de Rilke, no qual expressa os temores que o atormentavam.
Em 1912 começou a escrever As elegias de Duíno, uma das maiores obras poéticas dos tempos modernos, cuja influência foi tão grande nos países de fala alemã como em todo o mundo. Depois de ter esgotado a poesia objetiva, Rilke voltou-se novamente para a si mesmo para buscar soluções às perguntas quanto ao propósito da vida e ao papel do poeta na sociedade.
Iniciado durante uma estadia no castelo de Duíno, na costa adriática italiana, o livro demorou dez anos para ser escrito, devido à depressão pela qual Rilke passou durante e após a Primeira Guerra Mundial.
A imagem poética unificadora empregada em todo o livro é a dos anjos, com inúmeros significados, mas sem as conotações cristãs habituais. Os anjos representam uma força maior na vida, ao mesmo tempo bela e terrível, complemente indiferente à humanidade – é o poder da visão poética, assim como a luta pessoal de Rilke para reconciliar a arte com a vida.
A filosofia poética revolucionária a que Rilke se propõe em As elegias de Duíno é significativa, sobretudo, porque nenhum poeta antes dele havia aceito a totalidade do mundo, o claro e o escuro, como inquestionavelmente válida e potencialmente universal.
Assim como Nietzsche, que viveu quase na mesma época que ele, Rilke determinou que seu objetivo era ser “louvor e celebração” embora esse propósito, em As elegias de Duíno, tenha se transformado em lamento.
De qualquer modo, superados seus dilemas, Rilke continuou a dedicar-se a esse propósito em Sonetos a Orfeu, suas canções de vitória, em que mostra o que a poesia significou para ele, o que obteve e o que esperava dela. O estado de ânimo predominante é a alegria. É um complemento à angústia e à ansiedade do livro anterior e a ele se soma, a tal ponto que uma obra não pode ser compreendida (não brilha) sem a presença da outra.
Nos últimos anos de vida, inspirado nos poetas franceses Paul Valéry e Jean Cocteau, escreveu a maior parte de seus versos em francês.
Sendo doente desde a infância, sucumbiu a uma leucemia em 2 de janeiro de 1926. Em seu leito de morte, manteve-se fiel às crenças anticristãs e negou-se a receber um sacerdote nos momentos finais.
Hermann Hesse resume sua evolução como poeta: