Foi diretor do Long Islander entre 1838 e 1846 e do Brooklin Daily Eagle, a partir de 1846, cargo que abandonou em 1848 por divergências em questões políticas, especialmente o problema da escravidão.
Em 1850 viajou a Nova Orleans, onde trabalhou como construtor durante cinco anos. Um ano depois editou, com seus próprios recursos, o livro Folhas de Erva (1855), que se converteu em sua única e essencial obra, plena de liberdade formal, de acentuado lirismo, inclinação liberal e expressividade poderosa.
A imprensa atacou furiosamente sua obra, que foi tachada de escandalosa pela forma – versos longos, com termos próprios da linguagem popular e direta – e pelos temas. Porém, também despertou a admiração de Ralph Waldo Emerson, que teve a lucidez para compreender a transcendência que a obra de Whitman apresentava para a literatura.
Folhas de Erva foi reeditada nove vezes durante a vida de Whitman, com correções e acréscimos constantes e, após a sua morte, são incontáveis as reedições, em todo o mundo.
De sua produção em prosa destacam-se Dias Típicos e Coletânea (1885); Perspectivas Democráticas (1871); Ramos de Novembro (1888), com textos em prosa e verso, incluindo trechos de crítica, páginas autobiográficas e poemas curtos publicados em diversas revistas; e Adeus, minha fantasia (1891), também com textos em prosa e poemas inéditos.
Quando iniciou a Guerra de Secessão, Whitman apresentou-se voluntariamente para trabalhar como enfermeiro nos hospitais de Washington, experiência que o inspirou a compor Rufar de Tambores, em 1865.
Terminada a Guerra, permaneceu em Washington, trabalhando com funcionário público na secretaria voltada a assuntos indígenas, mas foi despedido por “tendência imoral” quando seu chefe, horrorizado, descobriu Folhas de Erva.
Transferido para cargo semelhante, permaneceu até 1873, quando sofreu um acidente vascular cerebral que lhe provocou uma paralisia facial, mudando-se para Nova Jersey, onde viveu com o irmão George até falecer, em 26 de março de 1892, aos setenta e dois anos.
O entusiasmo pela liberdade do homem, pelos cultos religiosos puros, pelo trabalho manual, o lirismo apaixonado e avesso ao saber dos livros fazem com que a obra de Walt Whitman represente mais do que um momento de sensibilidade americana: é uma das definições imortais dessa sensibilidade.
Sem dúvidas, a obra outorgou à América a cosmovisão poética de que necessitava, afastada do estilo importado do velho continente, que cantou a fundação de um novo Éden, do paraíso democrático do homem cotidiano, com suas lutas, sua força, sua generosidade e sua nobreza.
O uso do verso livre e desordenado, a cadência oracular, o tom, por vezes bíblico, por vezes épico, a democratização da épica e a poetização da obscenidade conformam essa obra.
Não é por acaso que, para muitos, é considerado o poeta máximo das letras norte-americanas. Sua voz é generosa e otimista em relação ao homem, ao corpo, à fraternidade e à democracia.
Considerado “o bardo do eu”, contudo - e paradoxalmente - seu canto entroniza o indivíduo, mas também o dissolve, inegavelmente, na comunidade. Buscando o transcendentalismo, recuperou a inocência do sujeito, a nobreza do homem cotidiano, seu poder misterioso e criador, redimindo uma sociedade que, em sua época, parecia condenada a reproduzir os males da falsidade, da hipocrisia, da mediocridade e da desigualdade, ou seja, a perpetuar-se no ritmo decadente da civilização burguesa.
O interesse de Emerson por Folhas de Relva, nesse sentido, não é mero acaso: a confiança que desejava despertar na restauração da unidade entre espírito e natureza, a conversão do comum em genialidade, foi alcançada por Walt Whitman, ao representar o homem cotidiano como “depositário do espírito divino”.
Assim, “Canto o Eu, a simples pessoa em si,/ mas pronuncio a palavra democrática, a palavra Massas”, palavras com as quais inicia Folhas de Erva, revelam não apenas o Eu-autor, mas um dentre todos os que compõem “o santo e primitivo sinal”, o sinal de democracia, do companheirismo – o Nós unificado e diverso, o povo.
A irrupção do homem comum no poema requer, antes de mais nada, despertá-lo de seu sono para, desta forma, destruir as diferenças e naturalizá-lo: “Somos nós a Natureza, estivemos ausentes, mas agora voltamos”, canta Whitman, para que o homem abandone “toda a teoria passada de sua vida / toda a conformidade às vidas ao seu redor”. Vencida a inércia do antigo, manifesta-se o que é mais instintivo no homem como reduto do espírito.
De tudo quanto se poderia dizer deste extraordinário poeta, o essencial é assinalar o cenário cultural em que foi escrita sua obra: antes da poesia, Whitman foi jornalista, próximo ao rumor das ruas, às preocupações dos trabalhadores, dos famintos, dos necessitados. Durante a Guerra, ajudando aos feridos, visitou hospitais oferecendo consolo aos moribundos. Sua épica se encontra, portanto, próxima dos seres humanos, afastando-se das antigas lendas e mitos norte-americanos, mas oferecendo a mitologia democrática da qual a sociedade se encontrava carente.
A ênfase de sua poesia inicial foi cedendo lugar, contudo, à desesperança, à postergação da redenção democrática que profetizou. Em seu canto, a dimensão do presente se silenciou aos poucos, surgindo uma modulação para o futuro.
Contudo, sua obra foi decisiva para que a literatura americana se libertasse da ansiedade da influência alheia, seguindo seu próprio caminho e continua, apesar do passar do tempo e de todas as consequências, a representar a epopeia da democracia, essencial a todos os homens, em todas as épocas de sua caminhada pela história.
Assim como a força de sua personalidade influenciou muitos grandes escritores, que o tomaram como modelo, dentre os quais José Martí, Rubén Darío, Federico García Lorca, Octavio Paz, Jorge Luís Borges e o brasileiro Carlos Nejar, Walt Whitman marcou a humanidade com sua poesia - e continuará a fazê-lo.
Quem assistiu A Sociedade dos Poetas Mortos, filme de Peter Weir, de 1989, teve a oportunidade de conhecer e/ou de conviver com a obra do poeta que disse: “Carpe Diem”... aproveitemos o tempo, nós, que somos caminhantes, assim como Walt Whitman andou, livremente, pelos caminhos da vida.
Ó capitão! Meu capitão! terminou a nossa terrível viagem,
O navio resistiu a todas as tormentas, o prêmio que
buscávamos está ganho,
O porto está próximo, ouço os sinos, toda a gente está
exultante,
Enquanto segue com os olhos a firme quilha, o ameaçador e
temerário navio;
Mas, oh coração! coração! coração!
Oh as gotas vermelhas e sangrentas,
Onde no convés o meu capitão jaz,
Tombado, frio e morto.
Ó capitão! meu capitão! ergue-te e ouve os sinos;
Ergue-te – a bandeira agita-se por ti, o cornetim vibra por ti;
Para ti ramos de flores e grinaldas guarnecidas com fitas –
para ti as multidões nas praias,
Chamam por ti, as massas, agitam-se, os seus rostos ansiosos voltam-se;
Aqui capitão! querido pai!
Passo o braço por baixo da tua cabeça!
Não passa de um sonho que, no convés,
Tenhas tombado frio e morto.
O meu capitão não responde, os seus lábios estão pálidos e imóveis,
O meu pai não sente o meu braço, não tem pulso nem vontade,
O navio ancorou são e salvo, a viagem terminou e está concluída,
O navio vitorioso chega da terrível viagem com o objetivo ganho:
Exultai, ó praias, e tocai, ó sinos!
Mas eu com um passo desolado,
Caminho no convés onde jaz o meu capitão,
Tombado, frio e morto.
(Tradução de Maria de Lurdes Guimarães)