cuando el cantor se plante con su grito,
que mil guitarras desangren en la noche,
una inmortal canción al infinito”.
Faleceu em Buenos Aires, em 4 de outubro de 2009, ou, conforme Braceli, “[...] dicen que murió, el día del natalicio de la Violeta Parra. El azar sigue sabiendo lo que nos hace. Gracias pues. Gracias a la vida”.
Não recordava de si mesma senão cantando, desde sempre, talvez desde antes de aprender a falar... Em outubro de 1950, com quinze anos, participou de um concurso da Rádio LV12, de Tucumán, sob o pseudônimo de Gladys Osorio, triunfando e recebendo um contrato de dois meses na emissora. Após esse período, em Salta, passou a militar na Juventude Comunista.
O contato com o mundo artístico ocorreu em Mendoza, depois do casamento com Oscar Matus, que conheceu aos vinte e um anos e com quem esteve casada entre 1957 e 1966, período de pobreza e contínuas mudanças, de hotéis baratos e de exploração, mas também de reconhecimento, sobretudo em Mendoza e no Uruguai, em 1962.
Com sua carreira iniciou o Movimento Novo Cancioneiro, renovador do folclore argentino. Gravou seu primeiro disco – Canciones con fundamento – em 1965 e, um ano mais tarde, os Estados Unidos e a Europa se renderam aos seus pés, com Zamba para no morir.
Transformou-se na voz que traduzia os testemunhos do povo latino-americano, com canções como Canción con Todos, Cuando Tenga la Tierra, La Navidad de Juanito Laguna.
Mercedes Sosa cantou a América Latina para todo o mundo, mas sua maior contribuição foi ter cantado a América Latina para si própria, suas raízes, suas origens, seu sangue.
Em 1975, duas cartas mudaram completamente sua vida. A segunda exigia que partisse imediatamente da Argentina no prazo de quatro dias. Iniciou-se um período de medo e incertezas, no qual sofreu a censura e a persecução, mas sem render-se.
As canções, carregadas de conteúdo social, converteram-se em hinos, como Traigo un Pueblo en mi voz e A que florezca mi Pueblo.
De volta à Argentina, continuou a evocar a liberdade, a despertar mentes e a abrir portas com seu canto, que sempre foi um canto de dor e de esperança, comprometido com a vida e o destino da Pátria Grande Latino-americana.
Ao logo da carreira, trabalhou com artistas como Fito Páez, Julia Zenko, Juan Manuel Serrat, Caetano Veloso, Chico Buarque, Jorge Drexler, Joan Baez, Andrea Bocelli, Gal Costa, Ismael Serrano, Luciano Pavarotti, Milton Nascimento, Pablo Milanés, Silvio Rodríguez, Sting, Charly García, León Gieco, Luis Alberto Spinetta, Soledad Pastorutti, Víctor Heredia, Gustavo Cerati e tantos outros, recebeu vários Grammy Latinos, foi premiada pela Unesco pela defesa dos direitos das mulheres, jamais foi indiferente à dor do ser humano.
Nos últimos anos de vida, após uma enfermidade que a fez voltar aos palcos bastante debilitada, ressurgiu na sua luta incansável pela reivindicação de justiça social. Foi condecorada, em 2005, pelo Senado argentino, com o Prêmio Sarmiento, em reconhecimento ao seu compromisso social e defesa dos direitos humanos. Realizou recitais culturais na Plaza de Mayo e, em 2008, foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade para a América Latina e o Caribe, empreendendo viagens pela América, grande parte da Europa e Israel.
La Negra foi a voz da América Latina; em sua voz, todas a vozes cantaram. Costumava dizer que as cordas vocais eram o instrumento pelo qual traduzia os sentimentos, as ingratidões, as lembranças, as emoções de uma vida, as imagens da pobreza, da solidão, as penas do exílio, todas as tristezas e as alegrias que viveu.
Em 2009, quando sua voz se calou, tornou-se imortal, ecoando no espaço, nas mentes, no passado, no presente e no futuro de uma América Latina que constantemente renasce e que se mantém viva porque ainda luta pela liberdade.