Sua morte, talvez em sintonia com sua magnífica imaginação, também não fugiu das elucubrações mais fantásticas e, deixando de lado a fantasia, assim como a sua tumba, reserva ainda hoje um último mistério em sua estranha história.
A tumba de Poe
Depois de 2009 o misterioso visitante desapareceu. Seu ritual coincidia com o dia do nascimento do escritor e seu nome é um mistério, pois a única pessoa que dizia saber sua identidade morreu sem revelar o segredo.
Em 1983, o diretor da Casa Museu de Poe em Baltimore começou a organizar vigílias discretas para acompanhar o misterioso visitante. Um grupo esperava, mas não se aproximava, observando-o à distância enquanto ele se esforçava para ocultar-se.
Alexander Rose, professor de Literatura e presidente da Poe Society, interessou-se pelo último enigma de Poe nos anos sessenta, embora os paroquianos da igreja afirmassem que a aparição das flores e do conhaque sobre a tumba de Poe fosse noticiada desde os anos trinta. Rose faleceu em 1995. Estranhamente, no ano de 1993 o visitante misterioso teria deixado uma nota na qual dizia que “passaria a tocha” a um filho.
O filho de Rose conta, em um diário, que várias pessoas lhe afirmaram que seu pai era o guardião do segredo, o que considera possível, porque ele teria acesso a informações privilegiadas por estar profundamente envolvido em todas as “coisas de Poe” e por gostar muito de “mistérios”.
A última visita do homem misterioso à tumba de Poe foi em 2009, ano do bicentenário de nascimento do escritor. Embora tenham surgido alguns impostores, os fiéis sabem como reconhecê-los, pois o autêntico visitante conhecia uma entrada ainda secreta para o cemitério, que fica fechado à noite, e tocava de forma particular o mausoléu onde originalmente foi enterrado o corpo do Poe (e onde, segundo alguns, ainda continua, apesar da lápide estar agora alguns metros adiante). Por vezes, deixava uma nota. Em 2004, durante a guerra do Iraque, fez uma referência ao “conhaque francês” que revoltou os seguidores de Poe, temerosos de que não estivesse cumprindo sua missão a contento.
O mistério da morte de Poe
O grande mistério que foi investigado por décadas é a morte de Poe, que apareceu em uma rua de Baltimore delirando e vestindo roupas de outra pessoa, após três dias de desaparecimento. Sequer deveria estar em Baltimore, onde não vivia: deveria ter ido de trem de Richmond a Nova Iorque, de volta para casa após um tour em busca de dinheiro e apoio para uma nova revista literária que pretendia lançar.
Ninguém sabe por que Poe parou em Baltimore e tampouco o que fez exatamente entre o dia 27 de setembro e o dia 3 de outubro de 1849, quando foi encontrado aparentando estar embriagado ou drogado.
Morreu em 7 de outubro, com 40 anos de idade, em um hospital, sem saber explicar o que havia acontecido a ele durante os dias em que desaparecera. Não há certidão de óbito, mas se especula que foi vítima de diabetes, tumores, raiva, sífilis ou overdose de tranquilizantes.
Alguns estudiosos mais entusiasmados estão convencidos de que o culpado pela morte de Poe foi Rufus Griswold, jornalista, crítico literário e rival que obteve os direitos sobre as obras de Poe e que escreveu a primeira e mais influente biografia sobre ele, descrevendo-o como um bêbado instável. Como o dia 3 de outubro era data de eleições para deputados locais, ele “e seus cúmplices” teriam entregado Poe a um grupo de golpistas eleitorais que costumavam drogar as vítimas e disfarçá-las para que votassem várias vezes.
Os planos de Ruffus estariam registrados em uma carta que foi encontrada posteriormente e que também revelaria seus planos para reforçar uma imagem negativa de Poe na imprensa sensacionalista. Seguiu-se um escândalo de difamação que em muitos pontos, segundo seus seguidores, é apenas uma grande mentira.
Os seguidores de Poe o defendem com paixão e intensidade, com a mesma intensidade com que várias cidades competem para identificar-se com o escritor: Poe nasceu em Boston e cresceu em Richmond, dizia que era de Baltimore, passou pela Filadélfia e triunfou em Nova Iorque, onde viveu, no sul de Manhattan, em uma casa de madeira do Bronx, rodeado de ovelhas.
O lugar onde viveu em Nova Iorque é também a única edificação que resiste do antigo povoado de Fordham e uma das poucas casas pobres daquela época - as outras são todas mansões.
Mas Poe era pobre, pagava cem dólares por ano pela casa de cômodos minúsculos que fora construída com teto baixo para economizar madeira e aquecimento. Escrevia sem parar para conseguir dinheiro. Cobrou oito dólares pelos originais de O Corvo e cinco dólares por Annabel Lee, inclusive quando já era famoso.
Foi no Bronx que escreveu suas melhores obras. Seus passeios noturnos o inspiravam. A Universidade de Fordham tem guardado em um cofre o sino de sua escola original que Poe ouvia quando, atormentado pela morte da mulher, escreveu Os Sinos, seu último poema: “The ringing of the bells, bells, bells... Keeping time, time, time”.